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terça-feira, março 19, 2024

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Igí Emí apresenta sua nova mixtape, “Salva Dor”

Cria do Engenho Velho de Brotas, o artista Igí Emí apresenta ao público seu mais novo projeto musical, a mixtape “Salva Dor”.

Onde, Igí Emí homenageia a capital da Bahia e traz, principalmente, referências do seu bairro como Dona Chica, moradora mais antiga da Rua do Trovador, Vovó Cicí que dispensa apresentações e Dona Bai, uma das mais antigas cuidadoras de crianças e costureiras ativas da região; elementos de representatividade da cultura baiana como a fé, a capoeira, o samba, a festa, a beleza, a arquitetura, a literatura, entre outros elementos que caracterizam e muito bem essa homenagem estão expressos em toda a obra. Na arte da capa, produzida por Gean Almeida (Raízes TV), além das referências já citadas, personalidades como Riachão, Irmã Dulce e Mãe Menininha do Gantois também aparecem dividindo memória com o Dique do Tororó e o Pelourinho.

Já nas letras as faixas “Boa Pedida” e “Toca Fogo” contam em cada verso hábitos e práticas da cidade, e, já que estamos falando de Salvador, quem assina o ritmo dessa obra é nada menos do que o PagoTrap ou como prefere chamar o artista, o TRAPagodão com beats produzidos por Calibre.

A faixa “Chama”, primeira a ser lançada, abre os caminhos do álbum e traz como participação Candace, a canção fala de amor como forma de resistência e autoestima entre pessoas pretas, independente do gênero, idade ou classe social. “Mesmo que você não queira nós vamos falar de amor, mesmo que você não queira nós vamos viver o amor, eu vou sentir o amor, eu sou o próprio amor, da chama que não se apagou”.

Para eles, numa sociedade onde o racismo não dorme, o amor preto entre todas relações, além de um um ato dengoso, terapêutico e subversivo, é um dos caminhos que se abrem para a revolução racial e a cura interior. Versos como “Navios negreiros, diáspora para nos separar, mas a energia é mais forte e nada vai adiantar. O sentimento é mais que secular, mais que milenar, os pretos e pretas se encontram aqui ou em qualquer lugar”, expressam e muito esses sentimentos.

Além de Candace, o cabrito de Cruz das Almas, Uh! Neto também participa da faixa “Não Podem Me Parar”, lançada no final de 2020. Para os artistas não haveria momento mais significativo,uma vez que , na mesma época está sendo comemorado o Kwaanza que celebra o fim de ano dentro de princípios africanos diáspora a dentro (…), a música lançada em 21 de dezembro fecha o ciclo de trabalhos daquele ano ao mesmo tempo em que vem abrindo caminhos para 2021.

Versos como “pega o preto, origem vem do gueto, na pista tô ligeiro, não podem me parar” tem a intenção de encorajar irmãs e irmãos de “pele preta que se destaca”, como versa o cabrito, Uh Neto, a seguir dia após dia sem permitir que nada os pare mesmo num contexto caótico de pandemia em que a população preta foi a mais atingida em diferentes esferas da sociedade.

Assim como o Kwaanza, que traz, entre outras práticas, a reverência aos antigos, a preservação e continuidade dos costumes, o single “Não Podem me Parar” rememora e recomenda ensinamentos da cultura popular, o trecho versado pelo artista Uh! Neto: “mainha falou: filho ó só vai e se olhar para trás pede sua benção, quem abre caminho é bicho brabo cê vem do mato o mal não tema. Nesse jogo o bicho solto né livre, cria da Benguela sou malaca”, busca reverenciar os ensinamentos dos antepassados.

Para o artista é através da música, da arte, que podemos fazer ser compreendida ações que já estão aqui, sendo perpetuadas geração após geração mas passam despercebidas. O próprio beat trás em si elementos da cultura popular que já estão incorporadas a nossa vivências a tanto tempo que esquecemos ou de fato algumas pessoas nem sabem que são oriundos de África ou nasceram na Bahia por exemplo.

Enquanto Igí se junta a Uh! Neto para falar sobre sociedade, racismo, coragem e fé, na faixa “Vem Cá” o multiartista, Mon Santos, também cria do Engenho Velho de Brotas, soma para falar da relação de encontro, carinho e paquera entre as pessoas pretas. “O papai chegou cheio de amor, o corre bateu Jah abençoou, junto nossa cor é outro sabor Não quero mais nada já tenho tudo”, afirmando que a união entre pessoas pretas seja ocasionalmente, como ocorre na paquera, ou consolidado, como a relação de pessoas casadas preenche o vazio amoroso que comumente afeta pessoas pretas todos os dias.

Já o single “Solta Que Volta”, lançado no dia 17 de abril de 2021, foi gravado em plano sequência pelo fotógrafo Filipe Santos, traz a ideia de liberdade, continuidade, reciprocidade, comunidade. Assim como o ciclo natural das coisas, soltar é dar, oferecer algo sem nada em troca, sem o intuito de ganhar ou perder, mas de ser algo significativo para dar seguimento à vida e sobre essa tal liberdade que a letra aborda.

Embalada pela forte musicalidade de Salvador, mais disseminada pelo precursor do ritmo Calibre, como TRAPagodão “Solta que Volta” tem uma batida marcada e ao mesmo tempo leve que faz o copo mexer promovendo a experiência de expressar a liberdade de expressão através da dança.

Na letra Igí Emí traz mensagens de busca, determinação, vitória e reconhecimento , em versos como “Solta que volta, solta que volta que nunca falte nada pra maloca. Solta que volta (…) Deus abençoa os que se mostra”, refletem essas mensagens. Para mostrar os bairros de Salvador e sua vivência, valorizando o aprendizado passado através da conversa, seja com os mais velhos ou nas ruas, Igí usa versos como “A rua uma escola nunca vai nos parar. Na Ribeira, Liberdade, Pirajá. Pai não vê bicho com nada (…) quando desacreditaram ficou o Hip Hop”. A música é a quarta faixa lançada da mixtape “Salva Dor”, que relata o cotidiano de soteropolitanos, ou não, que vivem na Capital, mas que também são histórias comuns das grandes metrópoles Brasil afora. Esse é o segundo álbum do artista que lançou o EP “Atemporal”, produzido pelo Mano K em 2020.

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