Nestes últimos dias recebi um e-mail de uma assessoria de imprensa que anunciava o início de uma campanha de crowdfunding, até aí está tudo dentro da normalidade. O que me deixou intrigado foi que no orçamento detalhado havia uma verba destinada ao processo de divulgação do disco do artista. Alguma parte dessa grana será destinada aos blogs que repercutem o que é feito no rap? Minha experiência como vovozinho blogueiro diz que não, foram raras as vezes que isso aconteceu. Artistas ganham editais, descolam financiamentos, mas se esquecem dos blogs.
Imaginem quantas matérias loucas poderíamos fazer se tivéssemos investimento vindo de dentro da própria cultura. Não falo de matérias compradas, falo de anúncios, falo de parcerias no sentido real da palavra parceria. Muitos até ironizam a situação dos blogs e suas limitações. Vivemos sempre na linha entre a existência e a morte por insuficiência financeira, mas estamos trabalhando sério, também corremos e lutamos para captar recursos que estão além da cena hip hop, montamos nosso castelo. Independência financeira é independência editorial.
Conhecemos bem os custos de produção de clipes, mixtapes, singles, CDs, eventos. Sabemos o quanto é difícil a vida do artista independente, mas jogamos do mesmo lado, temos gastos consideráveis para manter uma estrutura que não desapareça, que não apague a nossa construção da história do rap e do hip hop.
A grana que poderia girar entre nós, recursos vindos de dentro do “movimento”, poderia proporcionar a cobertura de cenas além do que está aparecendo, poderia dar condições para a elaboração de reportagens, notas e posts exclusivos, mas essa realidade ainda não está sendo vivida pela maioria dos blogs. Temos nossos defeitos e vícios, mas acreditamos nos artistas e investimos tempo, grana, debates, discussões, reuniões, entre outras coisas, para noticiar o que rola no cenário.
Quando os artistas que tiverem condições financeiras e sensibilidade para mudar essa situação começarem a investir na mídia alternativa, o barato vai ficar louco, pois teremos mais meios para dar visibilidade ao que está rolando na base da cultura de rua.
Aos DJs e MCs que perguntam “mas quem são vocês pra ficarem de orelhada?” fica aqui minha resposta: Somos aqueles que – na época em que muitos artistas do rap iniciaram suas carreiras – não perguntamos: Quem são vocês? Estamos no mesmo time, celebramos e vivemos o hip hop, escolher divulgar o rap brasileiro ao invés de apenas focar a cena estrangeira é uma prova disso.
