A exposição Livio Abramo: Insurgência e Lirismo, em cartaz até 12 de março, destaca, em fevereiro, entre seus temas, a série intitulada ‘Macumba’, onde o gravurista exalta a cultura afro em suas obras. Trata-se de realização do Instituto Livio Abramo (ILA) em parceria com a Biblioteca Mário de Andrade (BMA).
A mostra conta com apoio financeiro da Fundação Nacional de Artes (Funarte), órgão vinculado ao Ministério da Cultura (MinC), do Governo Federal e da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo (SMC-SP), sendo destinada ao público em geral e admiradores da arte.
Duas xilogravuras clássicas da obra de Livio Abramo, com o título Macumba – 1953 e Macumba – 1957, assim designadas à época para representar cenas das religiões afro-brasileiras, fazem parte dessa série. Também são exibidas as matrizes referentes a cada uma dessas obras ali presentes. Essas gravuras fazem parte do tema “Ninfas Afro-cinéticas”.
No tema “Dina, a construção do desejo” estão apresentadas algumas gravuras também muito significativas da obra do Livio, intituladas, Negra – 1951, Negra – 1954 e Mulata – 1952, com suas respectivas matrizes, além de alguns desenhos escolhidos entre os inúmeros dedicados a essa filha de santo, que foi, durante muito tempo, uma grande fonte de inspiração para o artista. Parte destas produções foi concebida a partir de estudos com caráter antropológico, feitos pelo artista na década de 50, durante visitas realizadas a diversos terreiros em Duque de Caxias, Rio de Janeiro.
OBRAS EM DESTAQUE
“Dina, a construção do desejo”: Possuída por seu orixá, a filha de santo Dina, de um terreiro de “macumba” em Caxias, foi alvo do olhar encantado de Livio Abramo. Ele, Segall e Volpi foram paulistanos encantados com as negras do Rio, que para eles simbolizavam a luta da mulher brasileira pela sobrevivência, a maternidade, a ética do trabalho dos afro-descendentes, a graça e o objeto de desejo. Por vezes, eram signos do neo-colonialismo escravocrata. Amoroso, Abramo teve um olhar viscoso com relação à Dina.Fixou-se neste Ser. Dedicou-lhe dezenas de desenhos intimistas para detalhar seu rosto, o olhar, os lábios, os cabelos em coque, o corpo inteiro, o perfil, quase uma aparição, enfim uma presença sensual de quem também trazia a marca espiritual da macumba. Era como se sua imagem sempre lhe escapasse e fosse necessário revisitá-la diuturnamente. Nas xilos, Dina era protegida por títulos como Mulata e Negra. Ganhava um rosto ancestral como uma máscara ritual de culto dos Dan, povo que habita a região centro-oeste da Costa do Marfim e algumas áreas da Libéria. Exuberante, seus cabelos, como se esculpidos pelo desejo, eram uma miríade de luzes como os casebres iluminados nas favelas do Rio de Abramo.
“Ninfas afro-cinéticas”: Por alguns anos, Livio Abramo frequentou terreiros em Caxias, na Baixada Fluminense, levado por Bruno Giorgi ao Centro Espírita Oxossi, à Casa de Maria Conga ou Dona Alaíde Manakaleme e a Joãozinho da Gomeia. Nos anos 50, salvo entre antropólogos, era comum designar as religiões afro-brasileiras por macumba. Jorge Amado expunha o lugar do candomblé no universo baiano e a fotografia de Verger e José Medeiros e a música de Caymmi completavam a narrativa. A arte do século XX toma o tempo por matrizes como a duração (Bergson), o inconsciente (Freud), a física (Einstein), a metrópole e o cinema. A captura do tempo na dinâmica de movimento percorre o cubismo, o futurismo, o simultaneismo, Calder, o cinetismo no Brasil dos Objetos Cinéticos ou Aparelhos Cinecromáticos de Palatnik e a busca de incorporação do tempo da subjetividade em Lygia Clark. As filhas de santo na gira em Macumba (1953 e 1957) são como os movimentos dos corpos móveis das ninfas de Botticelli (Warburg e Michaud). Abramo pensou a plástica deste mundo espiritual, sem folclorismo, mascomo tempo, sinestesia e cinetismo do êxtase através de uma poética de delicadezas culturais.
SOBRE A EXPOSIÇÃO LIVIO ABRAMO: INSURGÊNCIA E LIRISMO
Passados quase 25 anos da morte do artista, o Instituto Livio Abramo (ILA) apresenta ao público um rico acervo – grande parte pertencente à família – com cerca de 120 obras. Aberta em 7 de dezembro, a mostra Livio Abramo: Insurgência e Lirismo permanece em cartaz até 12 de março de 2017, na Biblioteca Mário de Andrade (BMA), em São Paulo. A exposição reúne linoleogravuras, xilogravuras, litogravuras, aquarelas, grafites e nanquins, além de matrizes em madeira, matrizes em linóleo, clichês de metal, croquis, estudos e provas do artista, reunindo uma produção de quase 70 anos de trabalho. O panorama com curadoria assinada por Paulo Herkenhoff destaca os territórios estéticos e conceituais do artista, sobretudo, assinalando a sua importância como gravurista.
Serviço:
Livio Abramo: Insurgência e Lirismo
Período: desde 5 de janeiro até 12 de março de 2017
Local: Biblioteca Mário de Andrade (BMA)
Endereço: Rua da Consolação, 94, Centro, São Paulo – SP
Telefone: (11) 3775-0002
Horário de visitação: 24 horas
Mais informações: www.bma.sp.gov.br