As periferias paulistanas possuem muitas histórias como a de Dona Izabel, jovem preta de origem nordestina que fugiu da fome no interior da Bahia e encontrou em São Paulo, à despeito dos preconceitos e dificuldades, a oportunidade de prover um futuro melhor para sua vida e sua linhagem. Foi buscando dar voz e rosto a relatos como esses, representados como arquétipos subordinados nas narrativas da “branquidade” – que forma a grande maioria das produções audiovisuais brasileiras – que o publicitário Gabriel Quadros produziu o curta “Mãepreta – Terra, Ventre e Luz”, depois de ter sido selecionado pelo Projeto Curta em Casa, do Instituto Criar em parceria com a SPCine.
Gabriel atua como planejamento estratégico de conteúdo na Agência Newton e sua geração é a primeira em sua família a alcançar o ensino superior. Sua trajetória, como a de muitos jovens de sua geração, tem como alicerce o trabalho, a garra e a perseverança de grandes matriarcas. E é exatamente o que ele expressa no filme, ao apresentar a saga de sua avó, Dona Izabel: histórias e vozes que nas telas de cinema poucas vezes são retratadas com prestígio.
“Mais do que simplesmente contar a história da minha avó, queria transmitir sua potência, sua subjetividade. É muito importante ter representações positivas e realistas sobre matriarcas pretas no audiovisual. A narrativa do curta foi construída para que ela fosse a narradora de sua própria biografia, contada em sua linguagem, com suas expressões e formas de articulações”, afirma Quadros.
A formação em cinema do publicitário ocorreu por meio do Fundo de Educação da Newton. Isso porque a agência distribui parte de sua receita com todos os membros da equipe e um percentual desse recurso é destinado ao fomento do Fundo de Educação, que tem como objetivo aprimorar o conhecimento e a capacitação de seus colaboradores.
“A Newton divide 50% do seu lucro entre todos os colaboradores, de acordo com critérios previamente estabelecidos. Do valor que cada um recebe, 10% precisa ser obrigatoriamente investido no próprio desenvolvimento profissional, em cursos de especialização, por exemplo. Foi com esse recurso que o Gabriel foi estudar produção audiovisual, decisão que tem todo o nosso apoio”, diz Thais Marques, Head de Conteúdo e sócia da Newton.
O curta “Mãepreta – Terra, Ventre e Luz” é um dos 200 projetos selecionados pelo Instituto Criar para o registro do cotidiano das periferias paulistanas durante a pandemia. Disponível para ser assistido gratuitamente, o filme agora participa de um processo de votação popular que selecionará os dez melhores filmes do “Curta em Casa” para exibição no Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo.