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quinta-feira, março 28, 2024

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Projeto Escola Sem Partido: O que o Rap tem a ver com isso?

Escola Sem Igrejas, bíblia ou crucifixo na parede/ (…) Escola Sem cartilha “pedagógica” do governo/ Escola Sem exaltação à meritocracia/ Escola Sem miséria, com direito à merenda e papel higiênico no banheiro dos estudantes/ (…) Escola Sem PM ou GCM tomando cafezinho na cozinha da merenda bem na hora do intervalo/ (…) Escola Sem Projeto Político Pedagógico racista, machista e homofóbico, que ignora relações raciais, gênero, diversidade e história da África e dos povos originários/ (…) Escola Sem professores tristes, desestimulados e humilhados pelos governos/ E se for assim, o “partido” não fará falta.

São nesses versos puplicados na Carta Capital que o colunista Negro Belchior mostrou sua indignação contra o Projeto de Lei do Senado (PLS) 193/2016, mais conhecido como  Escola Sem Partido. Para Belchior não haveria necessidade de se discutir política caso as escolas públicas não apresentassem uma série de problemas como o ensino religioso, a ideologia neoliberal, a presença da PM e da GCM, a ignorância em relação às problemáticas das populações negras e periféricas, o desrespeito à história dos indígenas e dos negros, entre outros.

O PLS193/2016 propõe que nenhum conteúdo político ou ideológico seja ensinado nas escolas de modo que as escolas que o fizessem fossem punidas pela lei. Ele veio a tona logo na sequência de um vídeo que mostra uma sala de alunos de uma escola estadual de Curitiba cantando uma paródia da música “Baile de Favela” (do MC João) com conceitos marxitas como “ideologia” e “luta de classes” (assista ao vídeo AQUI). Antes do PLS, a professora que gravou o vídeo com seus alunos virou alvo de críticas de Rodrigo Constantino, ex-colunista da revista Veja e, com seu trabalho, conseguiu garantir a demissão da professora.

Existe uma séria questão por trás desse projeto que é: existe neutralidade política? Existe uma postura possível rap, hip hop completamente isenta de ideologia? O que nós aprendemos ao longo da história é justamente o contrário: todo e qualquer comportamento carrega consigo uma história, que é uma história da vida pessoal de cada pessoa e uma história de várias gerações. Assim, entendemos que que o Escola Sem Partido pode até ser sem partido, mas jamais será sem política. Essa movimentação, esse silenciamento que obrigaria os os professores a não falarem sobre política e sobre problemas sociais da Brasil é político. Não é de uma política de esquerda, mas basta observar que a maioria dos senadores que apoiam o projeto são de partidos liberais e, em muitos casos, ligados à bancada evangélica do Senado.

Além disso podemos pensar em milhares de perguntas, especialmente nestas: como a escola pode formar cidadãos (é um dos objetivos da Educação de acordo com a Constituição Brasileira) sem diálogo? Sem conversa? Sem que se apresente pontos de vista para que sejam questionados?

E O RAP?
Como seriam o rap e o hip hop se os artistas fossem educados numa instituição com os padrões que os adeptos do projeto Escola Sem Partido querem impor? O rap já foi mais combatente no passado, sabemos que, atualmente,  uma ala do canto falado brasileiro afirma que o rap pode falar de tudo, grande parte dessa ala usa esse argumento para defender uma errônea visão neutra, pois suas músicas falam de tudo, menos de política e questões sociais.

Pela milésima vez registramos aqui que ninguém é obrigado a fazer letras politizadas, mas, ao ficar calado em relação ao que a direita chama de luta contra a doutrinação esquerdista: igualdade de gênero, combate à homofobia, educação contra o racismo,  contra a cultura do estupro e a intolerância religiosa, o artista já escolhe um lado, não há neutralidade nenhuma quando decide não se envolver, e isso também é política, é apoiar ideias conservadoras com a também falsa existência de um Rap Sem Partido.

Por: Arthur Venturi e DJ Cortecertu
Imagem: Vinicius Martins (Alma Preta)

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