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quinta-feira, abril 25, 2024

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Por que existe rap e funk xingando a PM?

Por: Ronald Rios

Em toda obra artística, o/a autor(a) tem a liberdade de expressar através dela pensamentos em forma de palavras, sons e imagens algo que o/a inspira, sejam sentimentos ou ideias. É um tema como qualquer outro. Quem se interessa, ouve. Quem não se interessa, não ouve.

Como a polícia já apontou fuzil pra mim na rua, já me deu 3 duras — isso tudo enquanto pessoa física — e também já queimou meus olhos com gás lacrimogênio enquanto gravava uma reportagem de TV, eu particularmente gosto bastante de músicas que xinguem a polícia. Isso pensando só em mim — e nos relatos de colegas meus e do noticiário. Ou seja, eu só posso falar mesmo da PM-RJ e PM-SP.

Quando vejo na internet cenas de violência da PM da Bahia ou Paraná, essa temática me agrada mais ainda e penso “bom, é a PM brasileira como um todo, posso me identificar mais ainda com essas músicas! Os autores odeiam a polícia e bom, eu vejo que eles tem grandes motivos para isso! Qualquer suposto ‘exagero’ na letra está permitido em nossa lei de liberdade de expressão por não passarem de uma obra de ficção que em momento algum deve ser encarada como realidade.”

Aí fico de olho na TV americana umas cinco vezes por dia e só vou contando que cada mês que passa, vão surgindo mais assassinatos cometidos pela polícia americana contra pessoas pretas e latinas que não ofereciam perigo, não carregavam uma arma, não correram e nem ao menos tinham antecedentes criminais.

Logo concluo, “hey, esse letra de Fuck The Police do NWA parece ter saído dos mesmos sentimentos de alguém, que na gringa, se sentiu prejudicado pela polícia igual alguém no Brasil também! Aparentemente, essa tal de polícia está deixando muita gente irritada! Não se tratam de casos isolados. São muitos para chamar de isolados.

Por tudo isso, eu concluo que adoro músicas que xinguem a polícia — de tudo que é nome! Porque elas são obras de arte que traduzem o incômodo que uma parcela da população tem em relação a maneira com que são tratadas pela polícia.

Eu gosto de pensar elas são alguns dos melhores comerciais do exercício da liberdade de expressão! Da mesma forma que o comercial de TV vende cerveja para seu filho na puberdade aos 14 anos, não tenho nada contra quem fizer um comercial musical — tipo um jingle! — exaltando a liberdade de expressão da nossa maravilhosa democracia ao criticar uma polícia truculenta, mal treinada e mal paga.

ESSES PEITOS SÃO A MELHOR FORMA DE ME ENSINAR A BEBER COM MODERAÇÃO

A polícia é um serviço necessário? Completamente. Já digo logo para que ninguém me venha com o papo de “Então quando você for assaltado, faz o seguinte: chama o Batman!”. Não, tá proibido essa réplica, por dois motivos:

1) Eu de fato quero um funcionário público bem treinado de qualidade para me proteger.

2) Esse é até mais importante pra mim: já ouvi essa piada várias vezes de garotinhos reacionários bravinhos Bolsonetes que ficam de pau duro quando veem um PM apavorando um favelado no “Polícia 24 Horas”.

E vocês achavam que “50 Tons de Cinza” era o que tinha o fetiche de violência mais bizarro com relacionada a cor cinza.

E quanto aos bons policias? Bom, que eles aprendam a vigiar seus colegas. Se eles combatem crime, a primeira coisa que tinham que fazer era combater no colega que tá no carro com ele fazendo ronda.

Eu tenho 4 amigos policiais honestos. Eles existem. Por mais que eu esteja cantando Foda-se a Polícia, eu não estou falando desses 4 amigos. Eu estou falando dos carros e cavalarias que andam por aí assustando centenas de pessoas todos os dias. Seja o mais inocente rapaz até o maconheiro com uma paranguinha de prensado de 5 reais. Ou mesmo um pino de cocaína, droga que eu sou completamente avesso e encho o saco de colegas que usam para que não o façam, mas com a certeza de que eles não deveriam ser presos, agredidos, extorquidos ou até executados por gostarem disso.

Senão eu quero poder prender as pessoas que gostam de The Bing Bang Theory The Big Bang Theory— que não é um entorpecente mas fez danos irreversíveis na cabeça de milhares de pessoas — em muitos casos, mais nocivos até. Eu consigo conversar por horas com alguém que cheira. Quer dizer, quando ela não está cheirada, mas acho impossível 30 minutos de conversa com alguém que fez maratona de “BAZINGA” ontem.

Ah! E se o policial perceber que não adianta vigiar só o parceiro de ronda, já que o esquema é bem maior do que ele pode modificar?

Genuinamente acredito que você pode ser a coisa boa num sistema ruim. Muitos se corrompem, mas muitos não. Mas como já disse: existem casos de violência policial o bastante para gente fingir que são casos isolados. Infelizmente, existem muitos policiais criminosos.

E um policial criminoso é o motivo pelo qual existem as músicas mandando a polícia se foder.

Esse texto foi publicado originalmente no Medium.com e foi escrito pelo jornalista Ronald Rios.

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