sábado, outubro 12, 2024

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Natura Musical apresenta “Black Christ”, novo álbum de Daniel ADR

Jesus Cristo é um mano preto, caboclo. Cria das quebradas da Amazônia. Entre balas e sonhos, tem bravura para se manter de pé. Mais do que isso: quer voar, quer amar, quer a revolução. Em “Black Christ”, Daniel ADR, prodígio da cena do rap do Pará, traz a emblemática figura do salvador injustiçado e morto e dá a ele contornos de uma realidade crua, marcada pelo racismo e pela revolta, mas também repleta de pulsão de vida: paixão, fé, arte, vontade de subverter as estruturas de opressão e brilhar. Misturando trap, drill e rhythm and blues, o disco chega às plataformas digitais no dia 29 de março.

O lançamento marca os dez anos de carreira do artista e traz parcerias com nomes importantes e em ascensão da música urbana periférica do Norte do país, além de faixa com Lia de Itamaracá, mulher negra fundamental na cultura popular e a maior cirandeira do Brasil. O trabalho tem o patrocínio da Natura Musical e produção executiva da Psica Produções.

O álbum traz o novo momento da carreira do rapper, que se afasta de rimas pop e festivas de “PJL”, seu EP lançado em 2021, e mostra um lado mais intimista e sensível do artista. Provocativo, Daniel ADR coloca em cena um Cristo longe da mitologia que o faz loiro e de olhos azuis. De pele escura, mestiça, Jesus se parece com cada um dos jovens periféricos que tombam todos os dias vítimas da violência, da discriminação, da falta de oportunidade. “São jovens que poderiam ser salvadores das suas casas, das suas famílias, e acabam se perdendo pelo caminho, caindo pro crime, pro tráfico”, diz. O Cristo preto humaniza o corpo preto. “Por que quando Cristo é branco, a morte dele choca, mas quando é um preto, ninguém chora? Por que quem é contra o aborto aplaude o assassinato de gente preta? Que cristianismo é esse, afinal?”, questiona.

Filho de um casal muito jovem e que se separou quando Daniel ainda era bebê, o rapper foi criado pela avó materna, dona Raimunda. Entre os bairros do Guamá e da Cremação, periferia de Belém, cresceu ouvindo rap e samba, ritmos que narram sua trajetória desde a infância, afinal sua vivência se relaciona diretamente com as temáticas abordadas em ambos os estilos. Ali também viu muitos amigos se perderem. “Houve um ano em que eu perdi incontáveis amigos. Só recebia notícias de amigo morto, amigo preso. Eu fui uma exceção, e essas pessoas, a regra”.

O extermínio do corpo negro é o fio condutor de “Black Christ”. Para desmistificar a simbologia sacrossanta em relação a Cristo, o artista, que é Vodunsi-hê dentro do Tambor de Mina, traz Jesus dentro de uma perspectiva nortista e afro-indígena. Apesar da tragédia, há muita força de desejo e resistência nas rimas de Daniel ADR.

Somos muito além do estereótipo do homem preto. A gente não sente só ódio, raiva. Não vive e fala nas canções apenas de tráfico, crime. Fala sobre amor, paixão, sexo, dor, consciência de classe, sobre se sentir fraco, se sentir forte”, diz.

Inspirado no som dos Racionais MC’s, o mais influente grupo de rap do país, e sobretudo na estética de Emicida, Daniel traz para o trabalho Erick Di nos beats, e parcerias com Anna Suav, jvm LEO, Leonardo Pratagy e Lia de Itamaracá.

Ter no disco a sabedoria, a ancestralidade, a força da Lia é um presente. Ela tem uma relação forte com a afro religiosidade, e essa conexão nos une ainda mais. Tenho por ela uma relação de muito respeito,porque se hoje eu posso falar da minha fé preta nas minhas rimas, e ainda em 2024 sofro preconceito, com Lia certamente foi muito mais difícil, porque ela faz essa resistência há décadas. Mas ela não se afastou de si mesma. Ela nos abriu caminhos para que hoje a gente possa fazer arte”, diz Daniel.

Black Christ” foi selecionado pelo edital Natura Musical, por meio da lei estadual de incentivo à cultura do Pará (Semear), ao lado de nomes como Azuliteral, Raidol e Festival Lambateria, por exemplo. No Estado, a plataforma já ofereceu recursos para mais de 80 projetos até 2023, como Manoel Cordeiro, Dona Onete, Pinduca, Felipe Cordeiro e Thaís Badú.

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