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quinta-feira, abril 25, 2024

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Iza Sabino destrincha vivências LGBTQIA+ e racismo com discurso empoderador no EP “Trono de Vidro”

Assim como na expressão ‘teto de vidro’, o trono de vidro é uma coisa frágil. Quando você chega ao seu posto, você precisa saber cuidar para não quebrar e não desgastar”. Essa é a forma como a rapper mineira Iza Sabino explica o título de seu novo EP, “Trono de Vidro”, que chega pelo selo MacacoLab – braço da produtora A Macaco, responsável pelo Festival Sarará e pela gestão de carreira da banda Lagum. O título “Trono de Vidro” utiliza a expressão como uma metáfora para a realidade das “minas do rap, que precisam mostrar serem trinta vezes melhores e matar mais de um leão por dia para ter um pouco de visibilidade”, segundo Iza. A artista, também integrante do mob feminino de hip hop Fenda, aprofunda no EP temáticas que atravessam seu universo criativo e pessoal, como o amor e o empoderamento feminino, negro e LGBTQIA+ no EP. 

Mesmo com assuntos densos, Iza Sabino costura suas vivências às letras de “Trono de Vidro” com naturalidade. Nas composições sobre desejo sexual ou afeto, por exemplo, sensações universais chegam por meio de rimas onde o pronome pessoal “ela” é o que inspira a criatividade da rapper. “É bom reforçar esse tipo de narrativa para mulheres lésbicas não precisarem mudar o gênero de uma música de amor ou desejo”, comenta sobre a representatividade, discurso também presente na faixa “Brotou Na Base”.

Além de reverberar a atração entre duas mulheres, as linhas de Iza Sabino refletem demandas sociais urgentes de serem amplamente debatidas, como o racismo estrutural e a violência policial.  “Quem matou Marielle?”, indaga a artista na faixa “Você Nunca Saberá”, antes de denunciar a discriminação racial no trecho “Agora ri da minha pele”. Ao lembrar “de toda mãe que perdeu seu filho (…) sem saber de onde veio essa bala e quem apertou o gatilho”, a sensação de indignação fica declarada. A revolta despertada por este tipo de acontecimento resulta em devaneios de vingança que Iza apresenta ao mesmo passo em que apazigua esse pensamento. “‘Você Nunca Saberá’ é uma explosão de sentimentos, da raiva à fragilidade. Quando eu paro para pensar nessas situações, fico martelando como eu posso resolver isso. Mas aí eu lembro: vingança é algo que o tempo traz sozinho, eu não preciso buscar isso”, explica. 

O caráter autobiográfico de boa parte das canções de Iza Sabino também garante momentos que partem de cenários menos tensos e imprimem “um jeito leve de levar as coisas”, sentimento ressaltado pela produção musical de Vhoor e Smu. “Trono de Vidro é um  reflexo do que eu tô passando: me aceitando e me divertindo, principalmente quando se trata de sexualidade. Tem assuntos pesados e sérios, mas, ao mesmo tempo, não deixa de ser muito ‘pra cima’, em geral”, conta.

As colaborações do EP, inclusive, refletem a sinergia da artista com outros nomes da cena do hip hop, como o rapper Pejota (na lovesong “Como 10 e 10 É 20”), os MCs Anjim e Laranjinha (participações de “Loop de Dólar”) e as trappers N.I.N.A. e Thamiris (presentes em “Paz Terrível”). “Criar essa conexão dentro de várias expressões do hip hop é muito importante, ainda mais por eu ser uma mulher preta no rap. Na hora da composição das músicas, eu já sabia qual seria ideal pra cada um”, diz. 

Dando continuidade à discografia da rapper após o lançamento de seu disco de estreia, “Glória” (2020), “Trono de Vidro” mostra que, para manter o seu posto na cena, é preciso “ter compromisso com as próprias verdades e se entregar a cada momento, enquanto esse trono ainda é seu”, segundo Iza. “Tô encarando as coisas de forma mais sábia e sinto que consegui juntar isso com o deboche nesse trabalho”, conclui. 

O EP está disponível nas plataformas digitais.

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