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quinta-feira, abril 25, 2024

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Earl Sweatshirt retorna com álbum “Some Rap Songs”

O artista Earl Sweatshirt sempre esteve contra o mundo. Desde que a fama o encontrou com 16 anos, transformando-o numa sensação, num meme, num enigma e finalmente, num ícone. Para uma criança introvertida que sabia que podia rimar mas estava relutante em aceitar a exposição e invasões de privacidade, foi uma evolução inconfortável. Os fãs vorazes consumiam não só sua música mas sua vida pessoal também. Em vez de aquecer a atenção, ele recuou, se colocando à parte dos colegas que mantêm a relevância, através de uma presença estagnada.

Os seguidores se dividem em dois sabores: os que vibram com o Earl, o cuspidor – o cara que fascina com multissilábicas e sorrisos inteligentes; e os que vibram com Earl, o lastimador – um avatar pessoal para suas próprias dores emocionais. Mas em “Some Rap Songs” os ouvintes são desafiados a não absorve-lo em partes mas como um todo, na forma que ele se apresenta agora: um filósofo poeta que também é a cara de um som e uma cena surgindo.

O mundo criado por Earl e seu novo grupo – incluindo os rappers de Nova Iorque em ascensão Medhane e MIKE, o produtor/rapper Sixpresse, aka Ade Hakim, do coletivo do Bronx sLUms e Gio Escobar, linha de frente do conjunto ensurdecedor Standing on the Corner – é baseado em abstração, onde a forma é secundária ao estado de espírito. É onde o conceito de Escuridão é radical e a pratica de soul-searching (longo e cuidadoso exame de seus pensamentos e sentimentos) são canalizados através de um som lo-fi repleto de loops fora de ordem, samples cortados além do reconhecimento, e clipes de áudio que se parecem ao mesmo tempo aleatórios e pertinentes.

O primeiro single “Nowhere2go” produzido por Darryl Johnson e Ade Hakim, traz um beat agitado repleto de loops balbuciantes, samples vocais deformados e percussão solta. O instrumental pousa em algum lugar entre desorientador e tranquilizador, e é o pano de fundo estranhamente perfeito para Earl fazer uma pesada revelação sobre si mesmo: “I think… I spent my whole life depressed/Only thing on my mind was death/Didn’t know if my time was next.

Se o fato de Earl ser um produto de seu círculo de amizades ser a parte explícita da história sendo contada aqui, a implícita é que ele é um produto de seus familiares. Apesar da maioria do álbum ser escrita antes da morte de seu pai, poeta sul-africano Keorapetse Kgositsile, em janeiro desse ano, a sua presença eleva-se de uma forma que não ocorreu nos projetos passados de Earl. Resentimentos e lamentos de abandono são substituídos com aceitação e compreensão. “My momma used to say she see my father in me/I said I was not offended” ele rima em “Azucar”, mostrando sinais de reconciliação, mas somente depois de reconhecer como as mulheres em sua vida o detiveram durante os maus momentos. “My cushion was a bosom on bad days/It’s not a black woman I can’t thank.

Em “Playing Possum” ouve-se um dueto remendado composto por gravações de sua mãe, Cheryl Harris, agradecendo Earl e descrevendo-o como “trabalhador cultural” em um discurso importante, entrelaçado com seu pai recitando um excerto de um poema chamado “Anguish Longer Than Sorrow”. Ao todo, a música é uma letra de um filho amoroso honrando seus progenitores, uma letra que seu pai não chegou a ouvir antes de seu falecimento. Então, no penúltimo som “Peanut”, Earl lida com sua dor em um sample de piano lento e desafinado de seu tio, lenda do jazz africano Hugh Masekela, que faleceu logo após seu pai. O luto dá lugar à catarse no final do sample de Masekela. Logo no fim do álbum, as guitarras começam a balançar antes do glitching em silêncio. Seu tio e pai se foram, mas Earl ainda está aqui, carregando o legado artístico – e, com a ajuda de seus colaboradores, construindo seu próprio.

Ouça o álbum abaixo:

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