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quinta-feira, abril 25, 2024

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É hora de acabar com a misoginia no Hip Hop

Por Larry Harris, Jr

Eu amei a música do hip hop desde que ouvi pela primeira vez Raising Hell, do Run DMC. Primeiro como um fã e, mais tarde, como um rapper, eu sempre admirei a habilidade que é preciso ter para ser um bom MC. Curti MCs que mandavam letras importantes – rimas que significam algo para um monte de gente do movimento, da cultura. E, como um rapper, tentei representar os melhores elementos nas minhas músicas. Fiz canções líricas. Fiz canções de festa. Eu fiz músicas que fazem você pensar. Eu sempre fui muito autobiográfico.

Dei o meu melhor para evitar a misoginia em todos os meus sons, algo que eu tantas vezes ouvi na música hip hop de outros artistas. Você não vai ouvir mulheres chamadas “cadelas” ou “putas” em meus registros. Eu fiz isso para dar um exemplo.
Acredito que a misoginia no hip hop é um subproduto da misoginia em nossa cultura maior. Há uma abundância de misoginia em outros gêneros de música. Mas falo do hip hop, por ser e amar hip hop, sei que há um padrão mais elevado do que outros gêneros.

Quando eu era mais jovem, eu lembro muito bem de rappers que conseguiram por sabedoria nas suas linhas inteligentes. Rappers sempre pensaram bem sobre eles mesmos. Eles consideravam que tinham dominado a linguagem de uma forma que a pessoa média não podia. Mesmo hoje, quando rappers convencionais estão mais diluídos, eles se chamam gênios para fazer hits. E, eu desafio você a nomear um rapper que não chamou a si mesmo de o melhor pelo menos uma vez em uma canção.

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Capa “Doggystyle”, álbum de estreia do rapper Snoop Dogg

Lembro-me de um dia no Twitter, quando uma das contas que eu sigo fez referência ao disco de Snoop Dogg, “Doggystyle”, tanto como um álbum muito influente e misógino. Eu amei esse álbum. Mas, nunca por um dia influenciou a maneira que eu interagi com as mulheres. E, eu não entendo como tantos homens que supostamente amam suas mães, irmãs e outros membros da família do sexo feminino poderia permitir que um registro possa alterar a forma como eles percebem as mulheres.

Eu sei hip hop é altamente hipnótico, e suas letras podem permear o seu pensamento devido a ser cativante e repetitivo. Mas, se você conhece mulheres fortes, como você pode deixar seu ponto de vista mudar devido ao que você ouviu num disco de algum rapper? Devemos ter mentes mais fortes do que isso e exercer o livre arbítrio.

Rappers também devem assumir a responsabilidade por suas letras. É fácil descartar as críticas de misoginia do hip hop, de várias maneiras, mas existem rappers considerando o efeito sobre a sociedade que essas letras têm? Às vezes a vida imita a arte. Eu nunca iria querer que uma pessoa a ouvisse minha música e tivesse a impressão de que eu não respeito as mulheres. Eu tenho muitas mulheres fortes na minha vida para isso. Ouvindo hip hop, parece que as únicas mulheres fortes que os rappers conhecem são suas próprias mães. Isso não pode ser verdade. Estamos rodeados por grandes mulheres que merecem o nosso respeito e devem ouvir a nossa música sem se sentirem humilhadas.

nao-podemos-aceitar-a-misoginia-so-porque-nos-gostamos-da-personalidade-de-um-rapper-quando-nos-os-apoiamos-estamos-endossando-sua-misoginiaNão são apenas os pimp rappers como Snoop que escrevem letras misóginas. Mesmo os chamados “caras legais”, como Kanye e Drake têm letras muito problemáticas em suas canções. E, eles são muito populares entre as mulheres. Homens e mulheres têm que exigir mais dos nossos artistas. Não podemos aceitar a misoginia só porque nós gostamos da personalidade de um rapper. Quando nós os apoiamos, estamos endossando sua misoginia.

Eu quero que os rappers façam o melhor. Temos conversas diárias sobre masculinidade tóxica e feminismo em mídias sociais e toda a internet. Por que o hip hop ainda fica para trás? Eu sugiro que os fãs levem a sério a ideia de que os artistas são responsáveis por seu conteúdo lírico. Se você não gosta do conteúdo das canções de um rapper, não apoie esse artista. E não crie desculpas pelo fato das músicas serem cativantes ou populares. Estamos presos num ciclo vicioso em que a misoginia na sociedade alimenta a misoginia nas letras de rap, que, por sua vez, realimenta o olhar da sociedade sobre as mulheres. Nós podemos quebrar o ciclo, fazendo todos em nossas vidas serem responsáveis, incluindo os rappers.

Leia o artigo original (em inglês) no site The Huffington Post.

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