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sexta-feira, abril 19, 2024

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Def Yuri fala sobre rap numa época em que internet era coisa rara

Um dos representantes da velha escola do rap carioca, fala sobre a coletânea Hip Hop Pelo Rio, lançada em 1998

Banquei a produção incluindo prensagem, estúdios, masterização. Selecionei os grupos. Fiz a distribuição do material, articulei mídias alternativas e hegemônicas. Em decorrência da percepção dessa correria, um parceiro de longa data, José Júnior, do Afroreggae, propôs uma ideia: fazermos o lançamento da coletânea. Lançamento que se tornou o maior evento de rap gratuito no Rio de Janeiro, onde, além dos participantes da coletânea, tocaram: GOG, Thaide & DJ Hum, Cambio Negro, Marcelo D2/Planet Hemp, Jigaboo, Afro Reggae, entre outros.

A ideia da coletânea surgiu da necessidade de abrir espaços. O RRR (Ryo Radikal Repz), meu grupo, lançaria um CD, porém identifiquei um grande problema: eu lançaria o material, mas a cena continuaria a mesma, num intenso e interminável stand by.

A ideia era mexer com a cena e abrir novas possibilidades. Parte disso foi alcançado, principalmente para os artistas conhecidos nacionalmente e respectivas gravadoras que souberam aproveitar o evento nos Arcos da Lapa para alavancarem suas carreiras. Para alguns participantes, a coletânea e evento serviram para contemplar um sonho, porém isso, de forma geral, não se desdobrou em ações efetivas. Creio que tornou-se uma espécie de embriaguez.

def-yuriTodos celebraram o evento, mídia, reconhecimento, mas o embalo não foi aproveitado como deveria. Sou crítico aos desdobramentos desde aquele momento e cada vez que analiso sou ainda mais crítico. Apesar que nessa altura do campeonato entendo que para muitos aquilo foi o apogeu de anos de sonhos e luta.

Complicado abordar algo quando se está envolvido até a alma no processo. Idealizar capa, idealizar várias etapas, mas identifico o Hip Hop pelo Rio como um divisor de águas. É um marco natural que encerrou e renovou um período – para aquilo que percebemos nos últimos 18 anos.

O Hip Hop pelo Rio foi um sonho individual que conseguia refletir o sonho de muitos que tinham passado e orbitado por essa cultura. Esse sonho foi compartilhado, mas não foi apropriado na íntegra por muitos dos envolvidos para além do evento.

Por outro lado, é muito bom identificar que volta e sempre novas gerações citam e esmiuçam aquilo que foi feito. Lembro bem que ninguém do meio acreditava que esse projeto seria realizado, isso me trouxe ainda mais gana de prosseguir e mostrar que era possível colocar quase 80 minutos de rap carioca nos falantes de pessoas de vários locais do Brasil. Numa época que e-mail era algo raro. Era telefone, carta, telegrama e, principalmente, gastar canela.

Por: Def Yuri
Saiba mais sobre a Coletânea Hip Hop Pelo Rio

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