sábado, outubro 12, 2024

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Clara Lima e seu autorretrato em forma de arte

Conheci a Clara através do DV, na Cypher do RapBox, que pra mim é top 3 cyphers do Brasil, sério, é muito bom. Um pouco mais de 4 anos que eu tenho acompanhado o progresso da Clara Lima e notado o quanto essa mulher representa pra todos ao seu redor.

A MC tem soltado bastante singles e participações esse ano, apesar disso o foco dessa matéria vai ser sua carreira até o “Selfie”, seu ultimo disco.

A Clarinha como era chamada nas batalhas de rimas, era uma menina de apenas 15/16 anos e dava a cara tapa contra tudo e todos que chegassem a desaforar ela, mesmo que em forma de rimas. As pessoas que batalhavam contra a Clara não eram ruins, elas só eram totalmente inferiores a ela e com isso, acabavam sendo aniquiladas por essa garota que um dia se tornaria uma das vozes mais fortes e importantes do rap nacional.

As batalhas de rimas e o próprio rap são uma cultura machista e que com o tempo está se desconstruindo, assim como nós, meros humanos que aprende a seguir um padrão que é tudo errado. Clara Lima é resistência, guerreira e principalmente sagaz, foi a primeira mulher a ir pro Duelo Nacional de MCs depois de ganhar a regional. Com isso acabou ganhando muito destaque em todas batalhas que participou (não só de rimas), fazendo com que todo preconceito presente em certos ambientes sumisse quando chegasse sua vez e segue sendo assim até hoje em qualquer lugar que ela transite.

Aos 17 anos Clara Lima já era uma estrela internacional, no caso, atriz de um curta que estreou em Cannes, França. Clara interpretou uma menina que tinha a mesma idade e estava passando pela mesma fase dela na época, o temido fim do ensino médio e pressão em tentar descobrir o que realmente quer cursar, se é, que quer mesmo se jogar mais 4 anos em uma sala de aula. Após sucesso como atriz, Clara Lima deixou a personagem “Bia” de lado e escolheu o rap.

Transgressão” é seu EP de estreia e é nele que ela começa quebrar todas regras impostas pela sociedade, a famosa “GGFG” (Grande, Gloriosa, Favelada e Gangster). Se no EP vemos a MC cuspindo verdades, vivências, desabafo e coisas entaladas desde das épocas de batalhas, em “Selfie” seu primeiro álbum, vemos uma Clara Lima totalmente madura e segura de si.

Em “Selfie” temos Go Assisti e Gee Rocha dando uma vasta variedade de instrumentos, sentimentos e confiando nas rimas boas de Clara Lima. A junção desse trio resultou em um dos melhores discos de 2019 e segue batendo forte nas caixas do lado de cá até hoje.

Com somente dois feats, o disco é um autorretrato da Clarinha, a faixa 2 “Tudo Muda” é o resumo de toda essa matéria, onde ela canta com Chris MC, seu irmão de sangue. É nessa faixa que notamos a importância e significado de apoiar os sonhos de quem você acredita e não desistir, o refrão, “Mas quem não correu por nós, vai correr de nóis” é o grito dos irmãos para falarem, eu consegui!

A segunda faixa que contém feat é “Pássaros” e tem a participação de Guime MC, essa música tem uma pureza e letra tão bonita que é inacreditável ela não estar tocando em todas rádios do Brasil ou pelo menos na sua playlist. Aqui temos Clara cantando e Guime fazendo um dos melhores versos que ele já cantou, fazendo referencias canabicas e tudo mais.

Clara Lima é uma artista muito versátil, digna de ocupar qualquer espaço que ela desejar, o disco de 8 faixas é cada vez mais lindo a cada play dado, cada detalhe foi pensado minimamente com o pessoal da Ceia e o resultado final é um trabalho que vai ficar pra história do rap nacional. Parabéns para Clara, Go Dassisti, Gee Rocha, Felipe Charret, Alvaro e todas pessoas envolvidas diretamente ou indiretamente nessa obra, que com certeza, vai tocar por muito tempo nos meus fones.

O disco ainda contou com um documentário do processo antes e pós álbum, você pode conferir abaixo.

Foto capa: Beatriz Galvão.

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