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quinta-feira, abril 18, 2024

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Bastidores: 2Pac “Makaveli the Don Killuminati: The 7 Day Theory”

[Este artigo foi publicado originalmente em Outubro de 2003 pela XXL]

Sem aquela extravagância de álbuns duplos, o oficial álbum final do 2Pac deixou uma cicatriz sinistra no jogo do rep. É aquele tipo de álbum que até os reppers que participaram não podem deixar de ouvir. Aqui está uma visão interna do clássico mais controverso do hip-hop.

 As sessões de gravação que renderam o último álbum de 2Pac ocorreram ao longo de 7 dias de muita Hennessy em Agosto de 1996, enquanto o repper estava simultaneamente filmando dois filmes (Gridlock’d e Gang Related). Aproximadamente 20 músicas foram gravadas no Can-Am Studios, em Los Angeles.
 O trabalho final de ’Pac foi engendrado principalmente por Tyrone “Hurt M Badd” Wrice e Darryl “Big D” Harper — dois contribuintes da Death Row que não conseguiram suprir o vácuo deixado por Dr. Dre — e o artigo apresentara pontos de vistas principalmente dos amigos e familiares de infância de ’Pac. Os Outlawz falaram muito sobre como estava o clima na Death Row no momento.
Disponibilizado nove meses antes, o álbum duplo de ’Pac, All Eyez On Me, tinha certificado platina quíntupla, tornando polêmico o nome da marca da empresa mais bem sucedida da música rep. Aparentemente, no entanto, as rivalidades internas na Death Row e as tensões estavam quentes (sem dúvida, compostas pela notória confusão “East x West” entre 2Pac e Biggie e uma série de outras pessoas do hip hop de Nova York). Então, com Snoop Doggy e os Tha Dogg Pound em um estúdio adjacente, ’Pac fechou as fileiras e apressou seu explorado elenco de apoio através de um processo artístico relâmpago — criando uma coleção de músicas sombrias, insulares e paranoicas que ele intitulou “The 7 Day Theory”.
 A urgência do álbum é palpável. (Muitos ouvintes, de fato, disseram que ele estava ficando sem tempo.) Atualmente, Makaveli The Don Killuminati, com todas as contradições existentes, ’Pac continua sendo o memorial favorito dos fãs, como um herói após sua morte. 7 anos depois, a XXL falou com algumas das pessoas que estavam trabalhando com ’Pac nesses últimos dias, e detalharam faixa por faixa desse álbum clássico. — Adam Matthews

1. Bomb First (My Second Reply)

Participando: E.D.I., Young Noble

Produzida por Darryl “Big D” Harper

Young Noble: Eles tinham uma pequena sala de produção lá em cima, e eu estava lá escrevendo. Eu tinha feito por último. Eu lancei um verso para ’Pac. Nós estávamos lá dentro, brincando de freestyle. Ele apareceu com o primeiro verso. E.D.I. escreveu seu verso e saiu bastante cabuloso. Eu acho que “Bomb First” foi um desses clássicos. ’Pac facilmente foi lá e gravou. [Quando eu disse “Rei de Nova York”] eu estava falando de Biggie. Você sabia sobre a situação que estava acontecendo. Porque Biggie realmente era o Rei de Nova York na época.

E.D.I.Makaveli é um álbum onde ’Pac basicamente fez sozinho. Quero dizer, produção, letras… Muitas pessoas não sabem que ’Pac era um produtor… E “Bomb First” foi uma batida que ele mesmo começou. Outras pessoas ganharam crédito por isso, mas ’Pac começou essa batida. A linha de baixo foi do Naughty By Nature “Uptown Anthem”.

Nós amamos essa música. ’Pac estava trabalhando na bateria. Esta música foi como a resposta de “Hit ’Em Up’. Isso foi depois que “Hit ’Em Up” saiu e todos tiveram seus próprios e diretos comentários sobre a música e como eles se sentiram sobre isso. ’Pac havia dito: “Tudo certo, eu tenho outra coisa para dizer e vou começar quando finalizarmos este álbum. Esta é apenas uma faixa de passeio. Isso é apenas sobre niggas passeando.” Também introduziu Noble. Ele foi o outro Outlaw oficial.

Nós todos estávamos aprendendo essa parada ao mesmo tempo. Então o que ’Pac fazia ele já deveria ter tudo esquematizado em sua cabeça, e apenas dizia às pessoas o que fazer, tipo, “Eu quero que os tambores fiquem assim, eu quero a linha de baixo assim.” Ele estava louco. Tinha acabado de comprar uma casa nova e tinha um piano lá dentro e ele costumava botar para foder com as melodias nele o tempo todo. Uma dessas melodias foi a de “Bomb First”. Ele fez isso. Ele só precisava finalizar e ir ao estúdio, tocá-la e fazer com que alguém juntasse e depois dissesse aos niggas que adicionassem bateria aqui, o baixo ali, a guitarra aqui, algo lá… Ele realmente não sabia como programar bateria e tal, mas ele sabia como programar pessoas, ’Pac foi bom com o que conseguiu. Ele tirava o melhor das pessoas.

Darryl Harper: Eu apresentei a batida para ’Pac e ele gostou, mas ele queria que a linha de baixo mudasse. Ele queria a linha de baixo semelhante à que alguém tinha feito no filme Juice [Naughty By Nature “Uptown Anthem”]. Eu não sabia como era, então eu precisei ouvi-la e descobrir como era. Então eu mudei a linha de baixo e foi assim.

Lance Pierre: 2Pac realmente fez essa linha de baixo. Ele acertadamente sentou-se no Moog e bateu cada botão nisso. Mas Darryl fez a batida. ’Pac fez aquela música; muitas pessoas não sabem que ele estava começando seu lance de produção. Essa foi uma das músicas que ele teve muito a ver com a produção.

2. Hail Mary

Participando: Kastro, Young Noble

Produzida por Hurt M Badd

Young Noble: Quando fizemos essa música pela primeira vez, foi legal. Mas não gostei dela em si. Quando ela atinge a rua, você ouve isso através de ouvidos díspares. Ouvindo isso depois que saiu, foi como, “Porra, essa foi uma música incrível!” Fiquei apenas abençoado por ter feito parte disso. O estúdio tinha duas salas grandes e uma pequena sala de produção. Snoop e [Dogg] Pound costumavam ficar muito no estúdio de trás. Nós entramos lá e apenas trabalhamos. Era uma caixa de licor todos os dias — Cristal, Alizé, estávamos bebendo isso naquela época como jovens niggas. Bebendo a Thug Passion, meninas em todos os lugares, fumando maconha em todos os lugares. Nós estávamos apenas fazendo música. Três, quatro, cinco músicas por dia, apenas levando a sério. No total, “Hail Mary” levou talvez 30 minutos. Provavelmente demorou cerca de 15 minutos para escrever e cerca de cinco minutos para finalizá-la. Nós colocamos para reproduzir, meu verso já estava escrito. Eu tinha no meu livro que escrevi a última parte pequena: “Outlawz on a paper chase…” Essa seria uma parte no início. Eu já tinha isso e eu falei: “Aí, ’Pac, eu consegui isso.” Ele reagiu, dizendo: “Nah, vamos colocar isso no final.” ’Pac escreveu do coração, então não era como escrever, era como falar.

E.D.I.: Eu dou o crédito de “Hail Mary” para Hurt M Badd. ’Pac disse a ele: “Eu preciso de uma parada lenta, mas ímpar.” Hurt M Badd fez “Hail Mary” e quando ouvimos isso, ’Pac ficou louco. Nós fizemos a música em uma hora e meia.

Não foi a minha música favorita do álbum. Isso me lembrou uma parada do baixo-Sul. Eu não sabia que seria uma parada tão condecorada quanto hoje. ’Pac adorou a parte de Kastro e Noble. Como eles mudaram toda a ambientação da música em alguma parada bem Outlaw. Mas na verdade, acho que ele simplesmente amou o que ele disse. Isso é uma parada realmente sinistra que ele está dizendo: “Seeing niggas comin’ for me/ For my diamonds, when they glinstenin’/ Now pay attention, rest in peace, Father.” Porque ele sabia que uns manos estavam atrás dele. No final da faixa, lembro de ‘Pac gritando “Snoop”. Essa é outra coisa que ficou na minha mente. Porque na época, mesmo com a tensão na Death Row, ele ainda fazia questão de gritar Snoop no álbum.

Lance Pierre: Essa foi a melhor música do projeto. Também foi a música mais sinistra (estranha). 2Pac costumava fazer muita improvisação. Apenas falando no final da música. Eu estava mixando isso, mas na real nada disso deveria sair assim. Mas saiu e isso soou bem. Isso terminou mais incrível do que a forma como realmente esperávamos.

Hurt M Badd: “Hail Mary” realmente só me rendeu 15, 20 minutos para criar toda a batida. Acabei de trabalhar em um dia, estava me sentindo bem. Eu estava sentado atrás das mesas. Toquei alguns sons, e estava tudo feito. E então um produtor entrou na sala onde eu trabalhava, e ele ouviu a faixa — eu disse para ele colocar os fones de ouvido. Ele olhou para mim e reagiu, dizendo: “Porra, Hurt! Isso soa como um funeral do hip-hop, cara.” Quando eu faço algo, não sinto como todo mundo, acho que é intrínseco. Ele disse: “Por que você não deixa 2Pac ouvir isso?”

Quando 2Pac ouviu isso, ele realmente não falou nada além de “Me dê isso.” Eu deixei o estúdio e quando voltei no dia seguinte, todo mundo, da segurança até a mulher da recepção até o produtor — todo mundo correu até mim dizendo: “Espere até ouvir o que ele fez no seu beat.” Quando eu ouvi, não pensei que seria um sucesso. Eu agi tipo, “Por que ele está colocando essas coisas na minha faixa?” Todos nós fizemos uma festa para apreciarmos o álbum, e ’Pac estava adorando todas as músicas, mas quando tocavam essa, ele simplesmente sentia alguma coisa. Ele jogava a mão para o ar com sua garrafa de Hennessy. Ele jogava suas mãos para o ar como se governasse uma nação.

3. Toss It Up

Participando: Aaron Hall, Danny Boy, K-Ci & JoJo

Produzida por Dometrius Ship e Reegie Moore

E.D.I.: Essa é uma música que já estava feita. Suge fez isso com Danny Boy e Jodeci. Essa é minha música menos favorita do álbum. ’Pac entrou na faixa e fez o que era para ser feito. Essa foi uma parada que ele e Suge já tinham feito. E a parte louca que muitas pessoas não sabem é que a música original era dos Blackstreet “No Diggity”, mas Dr. Dre tinha feito aquela “No Diggity” enquanto ele ainda estava na Death Row. E Suge tinha isso. Mas aí Dre vendeu a batida para Teddy Riley. O começo dessas músicas são exatamente quase iguais. Eu não sei quem pegou de quem. Eu não estou aqui para começar nenhuma confusão, mas no começo, “No Diggity” e “Toss It Up” foram exatamente como se fossem iguais. Você precisava estar lá para saber disso.

4. To Live and Die In L.A.

Participando: Val Young

Produzida por QD3

Young Noble: Foi como uma versão diferente de “California Love”. ’Pac amava LA. Em todos os lugares que saímos por Los Angeles era só amor. Quando passeávamos nos shoppings, geral ficava nos seguindo. Era como se eles realmente adorassem aquele cara [2Pac] lá fora. Até hoje, se estivéssemos nas ruas. Eles nos amam até a morte. Vivíamos bêbados em demasia com um monte de garotas no estúdio. Toda música que você ouve dele, era assim que nós fazíamos isso: era basicamente fumar, beber, se divertir. Eu acho que ele nunca demorou mais de uma hora para fazer algo. ’Pac estava trabalhando no Gang Related no momento, e com o cara branco quando eram bandidos de droga, Gridlock’d. Fomos ao set às seis, sete da manhã, e voltamos ao estúdio depois disso. Nós chegamos no estúdio às cinco ou seis da tarde. Nós fazíamos quatro, cinco, seis músicas por dia, então, se você fizer seis músicas por dia, em três resulta mais ou menos 18 músicas.

E.D.I.: Isso foi engendrado por QD3. Ele foi o único produtor externo desse álbum, além do cara que fez “Toss It Up”. QD3 era um dos produtores favoritos de ’Pac. Ele adorou trabalhar com Q.

Esse sample [nota: essa música foi uma reinterpretação] é de Prince “Do Me Baby”. Muitas pessoas não sabem que ’Pac era um grande fã de Prince. Se você ouvir um monte de músicas de ’Pac, verá que sampleou Prince de várias maneiras díspares. Essa foi provavelmente a música favorita dele nesse álbum, além de “Against All Odds”. Ele adorou toda a ambientação — “To Live and Die In L.A.”, tipo uma nova música de LA. Ele apenas lhe deu a sensação de estar realmente em Los Angeles. E ele amava a cidade.

QD3: Eu estava no estúdio com ’Pac, eu tinha alguns discos comigo, e havia essa velha música que eu mostrei para ele para ver se ele gostava da vibração. Ele sentiu isso e me disse para ir para casa e trabalhar em uma batida assim. Eu fui para casa e engendrei o mais rápido que pude, e acho que voltei na mesma noite, e ele reproduziu a batida três vezes, e em papo de 15 minutos ele já havia terminado a letra. Ele foi na cabine sem contar a ninguém sobre o que era a faixa, ele apenas colocou e fez de primeira — sobre cerca de três faixas. Então ele chamou a Val Young, o que era bem conceitual, e ela entrou e colocou a voz no refrão em apenas uma tomada, também. Depois que os vocais foram feitos, ’Pac precisava de Ricky Rouse [músico que participou do álbum] para substituir meu teclado e as partes da guitarra com partes vivas de baixo e guitarra e a música foi concluída — menos de duas horas no total.

Essa música teve parte de todos. Ninguém pensou duas vezes, ninguém duvidou de nada. Estava a toda velocidade até o final — como se fosse guiada automaticamente. Desde então, gravando assim, sem pensar duas vezes, alterei a maneira de fazer música.

5. Blasphemy

Participando: Prince Ital

Produzida por Hurt M Badd

Young Noble: Eu lembro depois que ele fez essa música, voltando para a casa, ouvindo isso. Ele foi muito profundo, e ele nem sabia. Era como se não fosse ele realmente… Esse cara, ele foi apenas um presente de Deus. Mas eu lembro dessa parada. Ele disse: “Droga, você ouviu o que estou falando?” Ele se surpreendeu com isso. “Eu não sei para onde vou com isso”, ele disse. Isso não é como se sentar e pensar o dia todo nisso para escrever algo assim. Foi único. Deus colocou isso em determinadas pessoas, e ele era um desses caras. Deus realmente colocou essa parada no coração desse homem.

Ele costumava falar sobre esse tipo de coisa. Ele sabia que sentia ser uma grande estrela e simplesmente iria desaparecer. E foi exatamente assim. Ele deixou sua marca. Não posso explicar tudo. Nem tudo eu sei. Ele costumava nos falar sobre essa merda o tempo todo. Tipo, “não queríamos ouvir isso. Você não vai a lugar nenhum. É melhor não ir a lugar nenhum.” Mas ele sabia disso, eu acho.

E.D.I.: Se você ouvir “Blasphemy”, há uma garota fazendo uma oração no final da música. Essa é a irmã de Kastro, Jamala Lasane, que também era prima de 2Pac. Era um pequeno lance de família. Ela estava apenas no estúdio, e ela disse tipo, “Eu poderia apenas dizer isso no final.” ’Pac ouviu o que estava dizendo e disse, “Vai lá gravar.” E ela acabou entrando no álbum. “Blasphemy” é uma música profunda com Ital Joe. Ele faleceu alguns anos atrás [em um acidente de carro]. Isso me faz lembrar da faixa “Hail Mary”. É uma daquelas coisas profundas e espirituais.

Muitas vezes na música de ’Pac, ele estava falando conosco, porque nós estávamos tão selvagens e fora de controle — muito vidrados no estilo de vida do nosso rep. Eu acho que muitas vezes ele queria nos encurralar de volta à realidade. Tipo, “É real aqui fora. Não é tudo diversão e jogos.” Ele costumava dizer isso demais. Então “Blasphemy” é uma dessas músicas onde eu sinto que ele estava nos falando sobre alguma parada pessoal.

Lance Pierre: Essa foi outra música estranha. No estúdio, depois da noite. As velas estavam queimando. O ambiente estava como: O que está acontecendo aqui?

6. Life Of An Outlaw

Participando: Outlawz

Produzida por Makaveli e Big D

Napoleon: Minha avó morreu [durante o processo de gravação do álbum], então eu tive que sair mais cedo do estúdio. Quando voltei, ’Pac tinha muitas das músicas prontas, exceto para “Life Of An Outlaw”, a [única] música em que estou. Era só eu, E.D.I., Kastro, Noble e ’Pac no estúdio. Lembro-me de que a batida surgiu e ’Pac pegou um dos caras de Six Feet Deep, Sixx-Nine, para fazer o refrão. Ele disse: “Eu vou fazer essa música para que as pessoas saibam: ‘Cuidado com o fato de que o Outlawz está chegando.’ Isso foi como uma introdução ao álbum Outlawz que íamos fazer com ’Pac.

’Pac fez isso em outro nível. No meio da música, antes do início do meu verso [ele perguntou]: “Ei, Napoleon, você morreria por mim? Você mataria por mim?” E então entrei com a minha parte para acabar com a música. Foi uma música profunda para mim também.

’Pac era sinistro, mano. Ele era de uma palavra só. Ele saiu da cabine suando. Ele ia lá com a sua fúria e seu entusiasmo, fazia o que era preciso. Ele estava lá com sua maconha e sua Hennessy. Todos estávamos nesse estado de espírito. Eu chamo isso de estado ignorante. Apenas ficando bêbado e sem saber o que estava acontecendo. Não ficamos um dia sequer sem beber. Ficamos extasiados, vivendo a vida.

Nós sempre entrávamos no estúdio e fazíamos o verso. Nós nem sabíamos o que fazer. ’Pac disse a alguém para jogar uma batida. Logo que a batida era reproduzida, ele dizia: “Tudo bem, vamos falar sobre isso”. E se o verso não é feito antes dele, você não entra na música. Ele era assim. Ele costumava dizer: “Eu já consegui um verso. Se nenhum de vocês tiver nenhum verso, não participarão da música.”

Nós só precisávamos escrever, mano. Tentando acompanhar o ritmo dele. E de repente ele colocava a batida, nós ficávamos como, “Droga, vamos começar.” Essa era uma das músicas que ele levava ao pescoço, cara. “Life Of An Outlaw”, ele ia lá e fazia um verso. Ele dizia tipo, “Eu terminei um verso, todos estão prontos?” Então ele começava a escrever outro verso. E fazia esse verso. Ele mantinha isso. Ele assumia a canção e fazia isso sozinho.

’Pac era um daqueles caras no estúdio que se você esbarrasse, ele ficava puto. Tipo, ele queria que você fosse lá e fizesse isso. Mas às vezes ele ia lá e nem sequer se importava se ficasse ruim. Você sabe como ele fazia uma dupla, e você ouvia uma das suas vozes entrar antes que a outra? Ele era assim. Ele ia lá, fazia e saia. Aquele trabalho que fizemos — foi profissional da maneira dele. Ele fazia o que era preciso e se fizesse errado, não regravava. Ele dizia: “Vamos consertar isso quando mixarmos.”

E.D.I.: ’Pac tocou essa melodia com essa música. Ele não é creditado por isso, mas ele tocou. É um pequeno som de teclado que você ouve em segundo plano. Ele fez isso. Qualquer participante da sessão que tenha sido contratado para engendrar esse disco irá lhe dizer isso. Se não disserem, eles estarão mentindo.

Darryl Harper: Começamos a trabalhar de forma exclusiva. Era eu, ’Pac e Tyrone [Hurt M Badd]. Nós estávamos sempre juntos quando chegávamos ao estúdio. Ele trancava a porta e as outras pessoas ficavam com ciúmes por isso na Death Row. Eles ficavam um pouco irritados por estar passando dias na sala conosco. Certas pessoas começaram a afirmar que estava acontecendo favoritismo, ’Pac usando nossas batidas. Mas era errôneo, porque antes de ’Pac realmente nos chamar, tínhamos apresentado todas as faixas para todos da gravadora. Ninguém sabia, exceto as novas pessoas que tinham acabado de assinar com o selo, pessoas que provavelmente nunca gravariam um álbum. Ninguém poderia tirá-la de nós. Matéria de fato, eles costumavam nos chamar de “Wack Room” até que ’Pac começasse a pegar nossas batidas. Então, as pessoas começaram a caguetar asneiras para Suge de que estávamos apenas dando beats para ele.

7. Just Like Daddy

Participando: Outlawz

Produzida por Hurt M Badd

Contém samples de The Honey Drippers “Impeach the President”

E.D.I.: “Just Like Daddy” é uma música que foi feita para o álbum dos Outlawz. ’Pac estava tentando nos ensinar a fazer uma parada para as vadias, porque toda a nossa parada era algo sério. ’Pac disse: “Essa parada é legal e as pessoas vão passar a adorar todos vocês por isso. Mas todos vocês vão precisar peregrinar por outros caminhos. Você precisa pegar as garotas. Todos vocês precisam fazer algo mais leve. Vocês também podem zoar.” Então ele foi lá, e começamos a fazer “Just Like Daddy”. A batida é o tambor de “Impeach The President”. Então Val Young entrou, e ele disse: “Val Young, eu quero que você cante isso aqui. Este é o refrão.” Então nós conseguimos música de amor e tudo mais. Estrondoso. “Just Like Daddy” para as moças.

Lance Pierre: ’Pac sempre usou Val Young porque gostava de sua voz. Era uma voz suave e inspiradora, tipo gospel.

8. Krazy

Participando: Bad Azz

Produzida por Big D

Young Noble: Nós deveríamos estar nessa música, mas demoramos muito para escrever nosso verso. Bad Azz estava lá embaixo com a gente. ’Pac gostava dele; ele tinha um ótimo flow. E ’Pac jogou Bad Azz lá em cima e fico feliz que ele tenha feito, porque Bad Azz agiu bem com esse filho da puta. Essa também é uma das músicas clássicas de ’Pac.

Começamos a escrever e nós estávamos demorando. ’Pac disse tipo, “Quem conseguiu algo? Bad Azz, você tem alguma coisa?” E foi perfeito, então Bad Azz ficou com a participação na música. Já estávamos em um milhão de músicas do ’Pac. Essa foi sua maneira de nos motivar, dizendo: “Se todos vocês não estiverem prontos, então não participarão da música.” Quando a música acabava, se os manos não tivessem nenhum verso, estávamos fora disso e iria para a próxima.

’Pac estava cercado de muitas polêmicas. Mas aquele cara era realmente só amor. Ele amava sua família, amava as crianças e amava os negros até a morte. Aquele cara era realmente tudo sobre o amor. É por isso que as ruas o amam. Através de toda essa merda, através de todas as confusões… Quando penso em ’Pac, não penso em nada dessa coisa negativa que o difamaram, penso em amor. Esse nigga tinha tanto amor em seu coração que era ridículo. E você pode ouvir e sentir isso na música.

E.D.I.: Bad Azz foi outro mano que estava por perto. Ele amou nossa música. ’Pac era fã dele. ’Pac queria a gente nessa música, mas a batida era muito lenta. Estávamos acostumados a cantar em algo mais agitado e rápido. Nós não estávamos realmente vibrando com isso. Então apareceu BA, pelas mãos do destino e simplesmente se aproximou daquela nigga. ’Pac disse: “Você conseguiu um verso para isso?” E Bad Azz disse tipo, “Já fiz meu verso.” E ’Pac disse: “Entra lá e faz essa parada então.”

Darryl Harper: E.D.I. ficou interessado na batida de “Krazy”, porque durante esse ano houve muitos aviões que caíram e igrejas queimando. Ele queria falar sobre essa situação. E.D.I. pensou que a batida que eu tinha seria essa. Então trouxe ’Pac para ouvir isso. ’Pac adorou a batida. Ele colocou outro refrão. Bad Azz havia acabado de chegar no estúdio enquanto estávamos fazendo isso. ’Pac olhou para ele e indagou: “Você tem algo?” Ele disse: “Tenho.” Ele foi lá e fez.

Lance Pierre: Essa música não foi realmente montada, foi apenas uma batida. Kevin Lewis, que foi o coordenador do projeto, está relacionado com o [pianista de jazz] Ramsey Lewis. Ele estava lá e continuamos dizendo: “Cara, isso não é uma música.” Ele disse: “Mas ele quer essa música no álbum.” Eu disse: “Cara, eu entendi mais ou menos, mas ainda não parece certo.” Ele disse: “Só precisa de um piano.” Então ele entrou e tocou de acordo com os vocais. A música ficou muito melhor do que originalmente.

9. White Man’z World

Produzida por Big D

Young Noble: Esse foi um daqueles em que ’Pac estava apenas se expressando, apenas sendo um homem negro. Ele também tinha amor por pessoas brancas. Ele tinha amor por todos em geral.

E.D.I.: Ele está falando para sua irmã. É um lance pessoal, então eu não quero entrar no lado pessoal, mas ele está falando para sua irmã e para sua mãe. É um registro pessoal. Eu acho que é como uma carta aberta para sua mãe e sua irmã. É como escrever da prisão. Ele realmente está apenas se desculpando pelas merdas que fez.

Aos 25 anos, todos estamos tentando crescer e mudar. Muitas pessoas não se lembram de que o cara tinha apenas 25. Ele ainda era um garoto, na verdade. 25 é uma idade jovem. Mas, ao mesmo tempo, ele tinha a responsabilidade de um filho de 40 anos. Ele tinha a responsabilidade de uma família toda, um selo inteiro. Nesse ponto do jogo, Death Row estava nos ombros do ’Pac e ele sabia disso.

Darryl Harper: ’Pac escreveu o refrão. Eu tinha a batida; ele gostou. Ele fez a melodia e tudo para o refrão e eu cantei. Eu não estava muito feliz com muitas coisas, porque ele não nos deixou fazer muitas partes. Em “White Man’z World” eu ouvir minha voz de fundo é meio estranho — parecia que eu estava ouvindo duas vezes ou algo assim. Mas ’Pac disse: “É isso. Está finalizada. Finalize isso, e envie para mixar.”

10. Me & My Girlfriend

Produzida por Makaveli, Hurt M Badd e Big D

Young Noble: Ele pegou esse conceito do Nas. Lembra que Nas fez essa música sobre a arma [“I Gave You Power” do álbum de 1996, It Was Written]? ’Pac gostava dessa música. Quando ele e Nas deixaram a confusão de lado, fiquei feliz. Eu cresci com Nas. Todos os Outlawz eram fãs dele. ’Pac também. Ele gostava de Nas. Isso é tudo que o hip-hop faz. Você ouve uma boa ideia, e você pega e aperfeiçoa. Essa foi uma dessas paradas. Era muita merda acontecendo, e ’Pac nunca foi um cara de travar a língua. Ele botava para fora o que pensava. Ele sentiu que um monte de filhos da puta estavam contra ele, e isso também não se sentou bem com ele. Acabou se tornando uma situação de Costa Oeste/Costa Leste, porque, na realidade, ’Pac e todos os Outlawz são da Costa Leste. Essa era apenas uma dessas músicas onde ’Pac estava andando com seus inimigos. ’Pac não tinha nada por Nova York além de amor. Estávamos em Nova York para o MTV [Video Music] Awards dois dias antes de ele ser baleado em Las Vegas. Foi aí que vimos Nas e ele abafou esse lance de rivalidade. Esse foi uma dos momentos mais felizes em que o vi.

Ele [2Pac] estava feliz por estar em Nova York e sentir o amor. Estávamos todos em Nova York — não era como se estivéssemos no hotel o dia todo. Até caminhamos por alguns quarteirões de Manhattan. ’Pac disse: “Foda-se, vamos andar.” Nós caminhamos por 30 minutos. As pessoas não acreditavam nisso. Ele estava com centenas de dólares. Ele me fez segurar uma maldita maleta com todo esse dinheiro. Ele estava muito feliz por estar de volta a Nova York. Eu acho que ele queria entrar em contato com todos lá — reppers, e apenas as ruas, por um tempo. Ele estava feliz por ter extirpado a rivalidade com o Nas.

E.D.I.: ’Pac já tinha a ideia para a música. Nós estávamos no estúdio tentando encontrar o caminho certo. Eu me lembro que Hurt M Badd estava lá trabalhando na bateria e ’Pac não estava realmente sentindo o que estava acontecendo e então Ricky Rouse disse: “’Pac, eu consegui algo. Eu mesmo escrevi essa música.” Ricky Rouse, ele era um cara de sessão. Ele era um irmão legal, mas sempre se preocupava com o seu crédito. Porque ele sabia onde ele estava. Ele estava na Death Row, e você precisa ser cônscio sobre o seu negócio ou você não receberá o pagamento. Então ele disse tipo, “’Pac, eu consegui alguma coisa, é algo da Espanha. Mas eu preciso da minha parte. Eu preciso ter [crédito] sobre isso.” ’Pac respondeu: “Isso aí.” Porque ’Pac era um cara justo. Ele deu a todos que participaram o seu devido crédito. Ele foi o único que creditou Val, mesmo que metade do refrão tenha sido edificado por ele.

Ricky Rouse começou a tocar a guitarra. ’Pac ficou louco. Ele disse tipo, “É isso mesmo. É isso que eu estou procurando.” Então ele começou a cantar; pois havia acabado de chegar com o refrão. Ele também chamou todos para escrever os versos para essa música. Todos nós escrevemos versos, mas ele simplesmente nos disse: “Não, isso não é suficientemente profundo.”

Ele tinha uma conhecida chamada Queen — ela fez a parte da arma na música —, e ’Pac a fez entrar naquele momento. Eu a conheço como Queen, ela trabalhava na Death Row. Ela era a recepcionista lá em cima. Ela é a que está falando essa parte, “Like what? West Side, nigga. Die, nigga, die!” (Como o quê? Lado Oeste, nigga. Morra, nigga, morra!)

Darryl Harper: “Me And My Girlfriend” era de Tyrone [Hurt M Badd], mas eu apenas participei nisso. Trabalhamos em outras batidas também. Ele faria bateria na minha e eu faria algo com a dele. Nós basicamente fizemos todo o álbum juntos. O álbum terminou em três dias, a mixagem ainda precisava ser feita. Então, o álbum terminou em uma semana. Quanto às partes de ’Pac, todas foram feitas em três dias que eu me lembre corretamente. Ele já tinha ideias para isso. Ele sabia. Ele contatou os Outlawz imediatamente sobre o que eles precisavam estar escrevendo. E eles tinham que estar nisso, porque aquele que não escrevesse, não iria estar na música. Foi uma viagem porque ’Pac iria terminar o seu vocal e sair [da cabine vocal] e chamar para um deles. Se ninguém tivesse algo, ele iria para o próximo. Ele simplesmente perdeu essa faixa. Se eles não estivessem imediatamente confiantes, não fariam parte do registro.

Lance Pierre: Tivemos uma ideia de fazer uma introdução na parte onde a arma está disparando. E precisávamos de algo díspar. Finalmente, havia uma garota — atualmente, ela está na Tha Row Records — de Virginya Slim.

Hurt M Badd: “Me And My Girlfriend”, ele tentou me blefar, ele me chamou. Depois de termos feito quatro músicas, 2Pac havia me chamado na minha sala um dia — trabalho na minha própria sala de produção —, dizendo que era para eu ir na sala dele, e ele disse: “Quer saber? Eu preciso de um tipo de ritmo que soe como algo que você nunca fez antes.” Então minhas sobrancelhas levantaram e eu fiquei boquiaberto. Ele disse: “Eu quero que você fique aqui e crie na minha frente.” Preciso lhe dizer uma coisa: Tudo ao redor do meu coração ficou de pé. O suor havia acabado de escorrer pelo meu braço. Mas eu também sou esse tipo de pessoa, adoro um desafio quando se trata de algo que eu sei fazer, entende? Então 2Pac disse: “Agora mesmo, na minha frente.”

Então eu comecei no scratch. Todos estavam me olhando pensando, “O quê?” Olhando para mim tipo, “Ele não sabe o que está fazendo.” Eu disse a ele para entrar com algo, e ele veio com pequenas rimas. Antes de conhecê-lo — 2Pac estava no sofá —, ele tinha esse olhar em seu rosto como, “Eu não acredito nesse cara.” No momento em que colocamos as cordas da guitarra, ele estava em pé e disse, “Isso!” Toda vez que ele ouvia uma faixa que ele gostava, ele escutava até encontrar o refrão na própria cabeça. Então ele se voltou para os Outlawz e disse: “Aqui está o refrão, ouça isso.” E veio com “Me & My Girlfriend”.

11. Hold Ya Head

Participando: Tyrone Wrice
Produzida por Hurt M Badd

E.D.I.: Essa faixa me lembra de algo do Me Against The World. Essa é uma daquelas melodias onde eu sentei e assisti esse nigga dizer para eles: “Toque isso.” Essa parada se encaixou bem. Hurt M Badd fez a bateria, tinha o piano.

Hurt M Badd: ’Pac já tinha o verso e o refrão. Ele entrou na minha sala e me perguntou se eu sabia como cantar. Ele disse que queria que eu cantasse no refrão. Eu disse: “Ok, vou fazer.” Quando ele fechou a porta, comecei a pular sozinho. Quando entrei, fiquei realmente nervoso. Ele me deu as notas para cantar e tudo. E, felizmente, acabou ficando legal. Sempre que você tinha que gostar de tocar ou cantar com ele, era assim que ele era. Mas, em relação aos produtores, eu o vi se estressar com alguns. Felizmente — graças à Deus — eu e ele não precisamos passar por isso.

12. Against All Odds

Produzida por Makaveli e Hurt M Badd

E.D.I.: Essa fecha o álbum. Muitas pessoas não sabem que é uma repetição de uma música de Cameo “The Skin I’m In”. ’Pac provavelmente listou isso no caminho para o estúdio, entrou e disse para Hurt M Badd: “Eu quero essa linha de baixo ali mesmo.” Hurt M Badd fez esse lance [nos teclados]. Não quero tirar nada de nenhum dos produtores que fizeram parte disso. Quase todas as notas que ’Pac estava cantando para os manos, cada drum kick, cada batida, snare, hi-hat — ele estava dizendo aos manos o que é que se faz.

Hurt M Badd: Nessa música ele estava se referindo a Nas e seus outros adversários. Ele estava pegando suas armas para a guerra, seu arsenal pronto.

O dia em que fizemos essa música, 2Pac disse: “Preciso de uma música de guerra. Eu quero ir à guerra.” Ele me deu uma hora, depois voltou e ouvi a batida, e ele queria que eu adicionasse aquela linha de base da música de Cameo. Quando comecei a fazer, ’Pac começou a se emergir, “É isso!” Ele chamou os Outlawz e começou a recitar o refrão: “Esta é a merda mais realista que eu já escrevi”, ele havia dito. Enquanto ’Pac estava fazendo seus vocais, ele não estava apenas gravando-os, ele também estava zoando no microfone.

Havia uma vibração na sala. Todos sabíamos o que estava acontecendo. Quando [’Pac] começou a recitar suas letras, nós estávamos nos olhando como, “Puta merda, aqui vamos novamente.”

Manancial: XXL Magazine

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