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quarta-feira, abril 17, 2024

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A “Ideal Mão de Obra Escrava” de Yannick Hara e a distopia brasileira

No segundo single do álbum “O Caçador de Androides”, o rapper paulistano narra questões políticas que vão da reforma da previdência ao veganismo.

Todo salto civilizatório foi construído através de uma ideal mão de obra escrava”. A frase atribuída ao personagem Niander Wallace (Jared Leto) nas cenas extras do filme Blade Runner 2049 (2017) do diretor Denis Villeneuve é a premissa do novo single “A Ideal Mão de Obra Escrava” do rapper Yannick Hara lançado hoje dia 07 de junho em todas as plataformas digitais.

A faixa faz parte do disco intitulado “O Caçador de Androides” e é inspirado na franquia de ficção científica Blade Runner (1982) de Ridley Scott, Blade Runner 2049 (2017) de Denis Villeneuve e no romance de Philip K. Dick Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?” além das referências musicais da trilha sonora de Vangelis. O álbum já tem data de estreia marcada para o dia 19 de novembro de 2019. Até lá, serão lançadas seis faixas entre os meses de maio e outubro.

Em Blade Runner 2049 temos a sequência do filme de 1982 que se passa em um mundo habitado por seres humanos e replicantes, androides desenvolvidos por meio da bioengenharia que são responsáveis por fazer os trabalhos mais hostis e preservar a espécie humana. Neste contexto, temos a figura do personagem Niander Wallace, o magnata responsável pela fabricação dos replicantes. Embora se coloque como um salvador benevolente da humanidade na busca de colonizar outros mundos, Wallace em nada difere dos grandes capitalistas que se utilizam da exploração humana e animal a fim de satisfazer os seus desejos megalomaníacos.

Sensível a essas questões, o rapper trabalha a simetria do mundo distópico com a realidade brasileira. Ambos revestidos de um ideal progressista, mas a favor de uma antiga política de exploração baseada em privatizações, terceirização de serviços, reformas trabalhistas e previdenciárias que colaboram para a precarização do trabalho e defende o interesse dos privilegiados “não seria esta a ideal mão de obra escrava brasileira?”, indaga.

Yannick também faz um apanhado da política onde “a vida não é mais a mesma depois da globalização” e se refere aos líderes mundiais como reptilianos, seres que segundo os ufólogos dominam o planeta por meio da alienação e controle das massas. No refrão “reforme as reformas” é marcada a necessidade de repensar os projetos políticos, principalmente aqueles que são disfarçados de benéficos para os trabalhadores.

A pauta política sempre discutida mas nunca posta em prática, a questão trabalhista, o reajuste salarial do judiciário e a reforma da previdência que prejudicará milhões de brasileiros ao ser aprovada são algumas das pautas que quero trazer com esse trabalho”, comenta o artista.

No entanto, as críticas ao sistema não param por aí. Yannick dispara contra o agronegócio, principal responsável pelo desmatamento da Amazônia e do efeito estufa no mundo. Recém convertido ao vegetarianismo, o rapper também cutuca a mídia ao afirmar que “o agro é pop, o pop é macro, o macro destrói o que é tão sacro”.

Na obra de Philip K. Dick, os animais foram extintos do planeta. Os poucos que sobraram, são disputados como um bem inestimável. É nesse sentido que “A Ideal Mão de Obra Escrava” também traz a discussão sobre a libertação animal, onde os animais são o grupo mais explorado do planeta: “é um ciclo onde quem explora não tem outra alternativa senão explorar quem está ainda mais abaixo e aí também cabe uma discussão sobre os males que esse tipo de alimentação traz para as populações mais carentes”.

A criação de gados foi um dos fatores responsáveis pela fundamentação do capitalismo. Paralelo a isso, o sistema espreme a vida dos seres humanos como forma de obter lucro, onde os que são improdutivos são facilmente descartados. Humanos e animais correspondem a mesma lógica: um deles vende a força de trabalho enquanto o outro não tem o direito a própria vida.

A Ideal Mão de Obra Escrava” se caracteriza por um big beat, estilo de música eletrônico composto por aceleradas batidas de hip hop e funk, podendo incluir distorções de riffs de guitarras. O instrumental conta com referências da trilha sonora do filme Blade Runner 2049 realizada por Hans Zimmer e Benjamim Wallfish, produzida por BLAKBONE.

Místico mas sem se perder às questões concretas, Yannick desenvolve um trabalho de verdadeira imersão nas obras onde nada é por acaso: desde a escolha da data de lançamento do álbum, que tem relação com o período que se passa o filme de Ridley Scott, até a os gêneros musicais que referenciam os anos 1980. O artista busca quebrar paradigmas e transmutar o hip hop a um outro patamar, onde estilos e ícones da cultura pop ajudam a dialogar com uma realidade compartilhada por todos, a da “alta tecnologia e baixa qualidade de vida”.

Assista, abaixo:

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