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quarta-feira, abril 24, 2024

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Uma incursão no mundo do Rap Underground

Antes de começar o texto, vale fazer uma consideração breve sobre a minha história. Quando eu nasci, meus pais gostavam de me colocar para ouvir muita música clássica: BachBeethovenMozart Tchaikovsky foram trilha sonora de várias partes da minha infância. Até que meu pai me apresentou o rock aos 10 anos, de forma que minha adolescência foi regada a muito metal sinfônico e metal progressivo. Quando me assumi gay, foi a vez de todas as divas ocuparem seu espaço do meu MP3 de meio giga (quase um luxo na época, trabalhei algum tempo juntando o dinheiro para comprar).

Foi só aos 17 anos que descobri o Hip-Hop (ou Black, para parte dos brasileiros) me acabando de ouvir BeyoncéDestiny’s ChildJennifer Lopez e vários sucessos dos anos 2000, de 50 Cent à Chris Brown. Daí foi um pulo para o rap de EminemKanye West e mais um pulo até os RacionaisVisão De Rua, SabotageRZO. E foi aí que descobri o Facção Central, o grupo com certeza responsável por me “tornar gente”, como eu conto aos meus amigos próximos. É quase uma experiência de existir no mundo antes e outra após ouvir Facção: meu mundo nunca mais foi o mesmo e sou eternamente grato ao DumDum e ao Eduardo Taddeo por isso.

Daí começou toda uma saga que dura até hoje, passando por vários raps independentes, trap, hip-hop, rap de países africanos, reggaeton, kuduro, champeta e por aí vai. Conheci cada vez mais gente do cenário, fui para quebradas que não conhecia anteriormente e aprendendo cada vez mais. Ainda assim o Rap Underground na pegada mais hardcore, confesso, nunca esteve nas minhas playlists ou nos shows a que fui.

Ou até neste sábado (08), pelo menos, quando eu e o Cortecertu, também jornalista aqui do ZonaSuburbana, fomos cobrir a festa de 25 anos do grupo RPW no Morfeus Club.

Chegamos no lugar, apresentamos nosso documento e pegamos nossa entrada de imprensa. Entrando, vários grafites e pichações. Diferente, mas familiar. Mas não era lá o show. Descemos um andar, como se fosse o porão de uma casa antiga. A luz gradativamente diminuindo e muita gente dançando um som que era rap, mas era meio rock. Pessoas fumando. Galera bebendo cerveja e muita, muita pichação. Eu amei de cara, mas confesso nunca ter ido num rolê assim antes.

As bandas começaram a se apresentar, eu e Cortecertu fomos tirando algumas fotos. Tudo normal. Aí começa uma muvuca no centro da festa. Já pensei, comigo mesmo, “fodeu!”. Uma galera se batendo, um pulando em cima do outro. Cortecertu, vendo minha cara de surpresa, avisa: “olha aí, bate-cabeça!” e tudo fez sentido. E a cada música que tocava (confesso que conhecia poucas, com exceção de algumas do Notorius) a galera se emocionando mais. Até que foi a vez das meninas do Plus Size se apresentarem. Quando comecei a assistir o show delas, confesso que quase me esqueci de tirar fotos e só reparei no meu corpo todo se mexendo, acompanhando a música e eu senti que eu estava no lugar certo. Era isso!

Confesso que olhei ao meu redor e bateu aquela sensação de familiaridade, de “porra, não conheço ninguém aqui, mas eu e cada um daqui temos algo em comum”. Não saberia, exatamente, como colocar isso em palavras mais objetivas, mas é uma sensação muito boa!  E foi quando as Plus Size rimaram “e se não gosta do meu peso, vai tomar no cú!” que eu simplesmente pirei.

Anunciaram a entrada do RPWDJ Paul, que já estava no palco, começou a tocar uma música que eu sempre gostei do Metallica, “Seek And Destroy”, que pouco a pouco foi ganhando a forma de uma batida de rap. E então W Yo entra com um casaco cobrindo a cabeça, picha a palavra MORTE na parede e sobe para o palco com Rúbia, que antes já  se apresentara com a Plus Size. Na falta de palavras mais objetivas: muito som pesado, muito bate cabeça, muita admiração dos fãs e Rúbia e W Yo mandando um som pesado ao lado do DJ Paul. A hora passou voando.

Fui para casa depois com a vontade de continuar no Morfeus, mas o sono já estava batendo forte. Com certeza não foi só uma visita de trabalho. Foi uma coisa que mexeu comigo e ainda não encontro as palavras certas para representar, mas foi sensacional. Me senti mais um ali no meio, com pessoas com quem nunca conversei antes mas com quem já divido uma experiência. Brincando depois, ao falar com Cortecertu, disse que se eu tivesse descoberto esse tipo de som e esse tipo de rolê antes minha vida teria sido bem diferente.

Sem mais, digo que estarei em vários outros rolês undergrounds por aí, peço que me convidem sempre e já aviso que da próxima vou entrar no meio do bate cabeça.

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