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terça-feira, abril 16, 2024

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Série “Macumba” é um dos destaques da exposição de Livio Abramo na biblioteca Mário de Andrade

A exposição Livio Abramo: Insurgência e Lirismo, em cartaz até 12 de março, destaca, em fevereiro, entre seus temas, a série intitulada ‘Macumba’, onde o gravurista exalta a cultura afro em suas obras. Trata-se de realização do Instituto Livio Abramo (ILA) em parceria com a Biblioteca Mário de Andrade (BMA).

A mostra conta com apoio financeiro da Fundação Nacional de Artes (Funarte), órgão vinculado ao Ministério da Cultura (MinC), do Governo Federal e da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo (SMC-SP), sendo destinada ao público em geral e admiradores da arte.

Duas xilogravuras clássicas da obra de Livio Abramo, com o título Macumba – 1953 e Macumba – 1957, assim designadas à época para representar cenas das religiões afro-brasileiras, fazem parte dessa série. Também são exibidas as matrizes referentes a cada uma dessas obras ali presentes. Essas gravuras fazem parte do tema “Ninfas Afro-cinéticas”.

No tema “Dina, a construção do desejo” estão apresentadas algumas gravuras também muito significativas da obra do Livio, intituladas, Negra – 1951, Negra – 1954 e Mulata – 1952, com suas respectivas matrizes, além de alguns desenhos escolhidos entre os inúmeros dedicados a essa filha de santo, que foi, durante muito tempo, uma grande fonte de inspiração para o artista. Parte destas produções foi concebida a partir de estudos com caráter antropológico, feitos pelo artista na década de 50, durante visitas realizadas a diversos terreiros em Duque de Caxias, Rio de Janeiro.

OBRAS EM DESTAQUE

Dina, a construção do desejo“Dina, a construção do desejo”: Possuída por seu orixá, a filha de santo Dina, de um terreiro de “macumba” em Caxias, foi alvo do olhar encantado de Livio Abramo. Ele, Segall e Volpi foram paulistanos encantados com as negras do Rio, que para eles simbolizavam a luta da mulher brasileira pela sobrevivência, a maternidade, a ética do trabalho dos afro-descendentes, a graça e o objeto de desejo. Por vezes, eram signos do neo-colonialismo escravocrata. Amoroso, Abramo teve um olhar viscoso com relação à Dina.Fixou-se neste Ser. Dedicou-lhe dezenas de desenhos intimistas para detalhar seu rosto, o olhar, os lábios, os cabelos em coque, o corpo inteiro, o perfil, quase uma aparição, enfim uma presença sensual de quem também trazia a marca espiritual da macumba. Era como se sua imagem sempre lhe escapasse e fosse necessário revisitá-la diuturnamente. Nas xilos, Dina era protegida por títulos como Mulata e Negra. Ganhava um rosto ancestral como uma máscara ritual de culto dos Dan, povo que habita a região centro-oeste da Costa do Marfim e algumas áreas da Libéria. Exuberante, seus cabelos, como se esculpidos pelo desejo, eram uma miríade de luzes como os casebres iluminados nas favelas do Rio de Abramo.

Ninfas afro cinéticas“Ninfas afro-cinéticas”: Por alguns anos, Livio Abramo frequentou terreiros em Caxias, na Baixada Fluminense, levado por Bruno Giorgi ao Centro Espírita Oxossi, à Casa de Maria Conga ou Dona Alaíde Manakaleme e a Joãozinho da Gomeia. Nos anos 50, salvo entre antropólogos, era comum designar as religiões afro-brasileiras por macumba. Jorge Amado expunha o lugar do candomblé no universo baiano e a fotografia de Verger e José Medeiros e a música de Caymmi completavam a narrativa. A arte do século XX toma o tempo por matrizes como a duração (Bergson), o inconsciente (Freud), a física (Einstein), a metrópole e o cinema. A captura do tempo na dinâmica de movimento percorre o cubismo, o futurismo, o simultaneismo, Calder, o cinetismo no Brasil dos Objetos Cinéticos ou Aparelhos Cinecromáticos de Palatnik e a busca de incorporação do tempo da subjetividade em Lygia Clark. As filhas de santo na gira em Macumba (1953 e 1957) são como os movimentos dos corpos móveis das ninfas de Botticelli (Warburg e Michaud). Abramo pensou a plástica deste mundo espiritual, sem folclorismo, mascomo tempo, sinestesia e cinetismo do êxtase através de uma poética de delicadezas culturais.

SOBRE A EXPOSIÇÃO LIVIO ABRAMO: INSURGÊNCIA E LIRISMO

Passados quase 25 anos da morte do artista, o Instituto Livio Abramo (ILA) apresenta ao público um rico acervo – grande parte pertencente à família – com cerca de 120 obras. Aberta em 7 de dezembro, a mostra Livio Abramo: Insurgência e Lirismo permanece em cartaz até 12 de março de 2017, na Biblioteca Mário de Andrade (BMA), em São Paulo. A exposição reúne linoleogravuras, xilogravuras, litogravuras, aquarelas, grafites e nanquins, além de matrizes em madeira, matrizes em linóleo, clichês de metal, croquis, estudos e provas do artista, reunindo uma produção de quase 70 anos de trabalho. O panorama com curadoria assinada por Paulo Herkenhoff destaca os territórios estéticos e conceituais do artista, sobretudo, assinalando a sua importância como gravurista.

Serviço:
Livio Abramo: Insurgência e Lirismo
Período: desde 5 de janeiro até 12 de março de 2017
Local: Biblioteca Mário de Andrade (BMA)
Endereço: Rua da Consolação, 94, Centro, São Paulo – SP
Telefone: (11) 3775-0002
Horário de visitação: 24 horas
Mais informações: www.bma.sp.gov.br

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