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sexta-feira, março 29, 2024

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Oganpazan: Dossiê Potiguar Rap Volume 1

Dossiê Potiguar Rap Volume 1, é uma tentativa de começar a dar conta da rica cena que encontramos nesse estado, com muitos grupos e propostas

Por Danilo Cruz

A cena de música alternativa no RN sempre foi bem forte e algumas vezes desorganizada, festivais independentes sempre movimentaram o centro histórico da cidade, o principal produto exportado eram bandas orgânicas de rock e blues, todas elas com um toque de regionalismo como é o caso de projetos como o Seu Zé, Revolver, Os Grogs, Mobb Dick, com o tempo grupos de outros estilos começaram a pipocar na cena, a principio a cena de reggae também foi destaque com expoentes como Nego Edmundo, Rastafeeling e posteriormente bandas como Dusouto que adequaram esse estilo ao vocabulário local e ritmos caribenhos dando origem a clássicos como Cretino.

O rap sempre correu um pouco por fora, seguindo o “faça você mesmo” que foi base para o movimento punk, os artistas no começo se viravam literalmente em dez, começaram a pipocar Mcs, Bboys, grafiteiros e Djs por toda a cidade no começo dos anos 2000. Daí surgiram nomes que permanecem até hoje como Mano Edu, Chico Bomba e Zé Baga, Breno Slick, Koala Louco, Agregados do Rap, e posteriormente gente como o Manifestart S.A. formaram o primeiro super grupo da cidade, naquela época DJ Stone era responsável por quase a totalidade dos riscos do que se tocava na cidade.

Quase de imediato também surgiram as crews de BBoys e com isso o movimento realmente expandiu, durante os tempos mais escassos de lançamentos de Rap no estado os BBoys seguraram a onda e representaram o RN fora de suas fronteiras, hoje os duelos de Break entre a ADR Crew e a Jesus Flava Gang são clássicos que movem além de talento uma paixão enorme e param o público nos eventos.

O surgimento de batalhas demorou um pouco mais, porém nem por isso deixou de evoluir, primeiro a Batalha da Vermelha no centro da cidade, Batalha do Gaiolão em Parnamirim e principalmente a Batalha do vinho na ZN são exemplos de resistência e agentes principais no que diz respeito a formar outros Mcs, outros duelos como o Combate de Mcs, Batalha da esperança, Batalha da Lost, os eventos da Highclub e da la Banca 84 sempre levaram as batalhas para outro nível com prêmios que incentivavam ainda mais os Mcs à serem ainda mais sangrentos.

Apesar disso tudo, Natal não tem um grupo ou Mc que realmente despontou em nível nacional e por isso cada grupo em si é bem original fazendo rap pra todos os gostos. Com o surgimento dos estúdios caseiros, produtoras como a Natora records, Gangsta records, Beat Kings, Oka Produções, Estúdio Beatbox e Eko dos Bueiros começaram a multiplicar os sons dessa galera pela cena.

Preparamos então um belo prato de entrada pra que vocês conheçam a força da cena potiguar no rap, nesse primeiro volume do dossiê selecionamos os grupos: Legalizados, Alquimia, Time de Patrão. E os rappers Brow Louco, Diego Da Sul e Mc Leozinho da BA.

Alquimia já é um excelente indice da qualidade do rap potiguar, fazendo um som com forte pegada underground, cheio de acentos boom bap. Buscando elaborar fortes poesias, no melhor sentido dessa palavra, com agudo acento social. Formado por: CJ, Perna e Patrick Soares, os caras fazem um trampo diferenciado e que com certeza precisa ser ouvido pelos sujos do resto do país.

Lançaram um Ep em 2015 chamado de Suciedad, contando com 7 faixas e muita ideia, produção sui generis do Patrick Soares, que caprichou nos beats e samples. Agora em 2016 lançaram esse webclipe do single Liberdade, seguindo a mesma qualidade dos trabalhos anteriores. Com uma letra que trabalha muito bem uma relação entre a ideia de Liberdade como seu próprio objeto de desejo, seu-nosso relacionamento amoroso. Uma bela ode ao Amor e a própria Liberdade, recheada com um sample caprichado no melhor estilo rapjazz.

Diego Da Sul é um dos rappers mais consistentes da cena potiguar, impressão que tivemos depois de ouvir seu primeiro Ep, Te Encontro No Fim (2014). Um flow muito seguro, com uma dicção perfeita e recheado com ideias muito bem elaboradas. O Mc tem livre trânsito com a cena de Fortaleza, tendo inclusive com o grupo de Trap Experimental OuroMelhor.

Resumindo é uma track presente numa coletânea ou mixtape bônus, chamada Resumindo Problemas, também lançada em 2014. O clipe flagra cenas do cotidiano misturando-se com cenas de uma manifestação contra um Padre que cancelou um evento tradicional. Fato que levou a população a se indignar e que terminou com o caro do mesmo sendo queimado. Porém essas cenas, servem-nos mais como pano de fundo pras reflexões que a música traz. Diego faz um belo “resumo” da nossa sociedade, relatando a anemia mental que nos leva a eleger e manter governos corruptos que nos deixam ao deus dará.

Atualmente o rapper prepara o seu próximo lançamento que já possui o nome de Egocentrismo, ficamos no aguardo do que estar por vir!

Grupo que calca o seu trabalho numa pegada mais old school, o Legalizados é formado por: Monteiro, Leo Muskito Mano Negão e MTH DJ’S e pelos BeatMaker’s: MXBeats e DJMarlon. Esses manos lançaram um pesado Ep esse ano, batizado com o título: A Culpa É Do Sistema (2016). Trazendo 7 tracks muito pesadas, cuspindo muitas criticas às práticas torpes dos políticos corruptos, refletindo sobre os problemas da periferia.

Nesse clipe com direção do MXBeats, podemos ver os manos com sua rapá, desfilando suas rimas ácidas contra o sistema corrompido em que vivemos, contra o preconceito. Se afirmando enquanto atores dessa cena que busca se firmar e levar uma mensagem capaz de mudar vidas. São todos “Boy’s Errados”, como o são todos aqueles jovens que fogem de fazer uma música alienante e buscam levar sua poesia para o povo. Alertando aqueles que são vitimas capazes de rezar pros seus algozes!

Em 2013 Mc Léozinho do BA lançou seu primeiro cd Aonde O Sonho Me Levou com a produção do Dj Rust com um pegada funk de mensagem. Atualmente o mano prepara um Ep chamado A Nova Lei Áurea Do Mundo Contemporâneo dessa vez contando com a produção do Dj Davinho. Apenas com um audição do teaser com um medley das faixas, disponibilizado pelo mano, podemos notar que esse Ep vem muito pesado tocando com temas muito importantes e combativos.

Em Canta Favela, música do video clipe lançado em 2015, com a participação de S Black, o mano foi visitar o berço do estilo que adotou. Com cenas filmadas no Rio de Janeiro e com a direção de Fernando Castellari. Mc Léozinho faz reverência ao Mc Marechal ao mesmo tempo em que firma-se num funk de mensagem, pregando superação e auto valorização. Atualizando em sua região, em seu gueto suas influência o mano faz um som muito bacana. Merece sua audiência!

Time de Patrão faz aquele bom e velho Gangsta rap recheado de beats dançantes numa pegada funk e ideias pesando a conquista de uma vida mais rica, em dinheiro, curtição e fortalecimento dos seus. Com uma formação pesada com os mc’s: Breno Slick, Mano Edu, Koala Loko e SBlack, com o Dj Nego comandando as pickups. Os manos tocam em diversos assuntos, no seu disco de estreia Na Missão Das Notas (2015) e daí que os caras tiram o single pro seu clipe.

A Vibe É Nossa é um clipe muito bem produzido, com um roteiro muito interessante onde uma mina em seu trampo embarca numa viagem ao ouvir a música dos manos. Saindo do cotidiano duro pra uma curtição de mil grau, onde os manos aparecem cantando a música. No conteúdo da música temos a vida loka das noites da periferia, com as questões do crime, curtição, sexismo (ponto fraco), a busca de melhorias para o povo da favela. Com uma produção audiovisual muito boa os manos estão preparando um novo lançamento pra esse segundo semestre!

Brow Louco é uma das cabeças caras do selo OKA Produções, selo que concentra grandes nomes da cena local. O mano que fez parte do grupo Dialeto de Louco junto ao Diego da Sul e Haram, prepara agora seu disco de estreia. O Ep Carta a Sanidade promete vir muito pesado e Sensação é o primeiro single que já começa a apontar a direção.

Música de amor, não precisa ser ordinária, e Brow Louco nos traz uma lovesong muito bem construída com uma lirica e um flow muito bacana. Dentro de um trap o mano desfila com maestria numa ode ao amor romântico que nos eleva durante a audição. Elevação proporcionada pela qualidade das ideias que nos leva a visualizar ou reviver momentaneamente aquela sensação de quando estamos apaixonados. Tudo se apaga e apenas a imagem e as sensações do nosso objeto de desejo preenche todos os campos sensórios.

Vamos agora ficar na fissura da chegada desse EP!

Introdução por Tarcísio Galvão…Valeu Monstro!

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