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terça-feira, março 19, 2024

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O hip hop não é só foda! Ele é PRETO! Gostem ou não

Um conjunto de coisas que eu tenho visto nos últimos meses somado a um comentário fascista que li hoje na live do Estaremos Lá com o Slim Rimografia e Rincon Sapiência me fez escrever isto aqui.

Existem muitos artigos na internet sobre a cultura hip hop, textos e mais textos escurecendo o tema. Ora ou outra revisitamos o debate sobre apropriação cultural e, para aqueles que não se dão ao trabalho de procurar saber o que é, resumem o assunto achando que nós não aceitamos brancos fazendo parte.

Tá tudo errado! Tá errado o conceito, tá errado se apropriar, tá errado achar que é bagunça e, principalmente, tá errado ser racista e apoiar discurso de ódio.

O hip hop não é só foda! Ele é PRETO! Gostem ou não.

Não vim aqui para fazer a wikipreta e contar a história do hip hop e nem a importância dele para a periferia. Está mais que comprovado que ele é uma ferramenta de transformação sócio-cultural e educativa. Está nos espaços de cultura, está nas quebradas e, quando o quadro piora, está nas Fundações Casa. Já fui em algumas, vi de perto o quanto um Racionais ou um Sabotage salva. Desenhos de grafite que são presentes para as mães e, às vezes, é a única forma deles retribuírem o amor que elas dão. Então tá resolvido! Não iremos debater a história do movimento

O que vamos debater é o perigo de permitir que tudo isto se esvazie em nome do hype, do game, dos views e dos stories com tênis de marca, bebidas e drogas. Um esvaziamento eminente e tão certo quanto o rock, jazz e quem sabe da capoeira gospel e gourmet. Enquanto se discute se branco entra ou sai, Fabio Brazza faz um rap do tipo somos todos humanos e diz que é Malcolm X (nem metaforicamente tá querido). O dono de um dos maiores sites de rap nacional, o Rap24 horas (bem ruim, diga-se de passagem) foi exposto por diversas ofensas racistas. De um lado temos Spinardi do Haikaiss de dreads, do outro, Rincon Sapiência sendo atacado após o Festival Batuque, por usar uma saia que para os não entendidos, se trata de uma vestimenta originalmente africana. Apropriação é isto, o uso livre de nossos símbolos e referências por parte de pessoas brancas que possuem o privilégio de não serem atacados.

Uma vergonha atrás da outra e uma sequência de closes errados que lá na ponta vai apagando a essência da cultura. Ou pior (anistia.org.br/imprensa/na-midia/violencia-brasil-mata-82-jovens-por-dia).

Mas Nerie, que separatismo é este? Então quer dizer que não pode ter branco no hip hop? Já ouviram falar em Issa Paz, Barbara Sweet, DÖ MC? Deixa eu contar uma curiosidade sobre a Sweet. Ela sempre usou uma faixa na cabeça que parecia bastante com turbante. Um dia, em uma conversa com ela, falamos sobre este assunto. Uma conversa agradável e respeitosa que resultou na não continuação do uso do tal lenço.

Segundo a Sweet, ela apenas não precisava, simples assim. “Preta, eu acho que muito disto tudo é abrir mão e pensar que a gente não vai morrer por não usar um turbante”. E tem a Eveline Sin, uma grafiteira que assinava como Sinhá e, após uma auto reflexão e uma conversa com alguns militantes negros, resolveu mudar o nome por entender que ele carregava uma história de opressão. E o , que eu já vi abrir mão de um cargo na politica por entender que era necessário uma pessoa negra no lugar dele. Entendem? Não é parada de biscoito, é parada de respeito, de abrir mãos dos privilégios, é sobre respeitar a cultura que está e não querer apagar os pilares. Dito tudo isto, apropriação cultural não se resume em “branco sai, preto fica”. É sobre conhecimento (precisamos investir mais neste elemento) e depois sobre respeito. O debate racial dentro do hip hop está uma vergonha, falo do meu lugar de mulher negra, mas gostaria que alguém do movimento LGBTT desse seu ponto de vista sobre a LGBTTfobia também, assunto sério e urgente. Tá demais! Racistas e fãs de Bolsonaro não passaram!

E só pra constar. Como bem disse o Slim Rimografia em “Arte do Gueto”: “O progresso do rap me lembra o congresso. Pouco Preto! E dá pra contar na palma da mão. Dos brancos!” É sobre o rap, mas pode trocar por hip hop.

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