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sábado, abril 20, 2024

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Dona Joana: A roupa humilde, a pele escura, o rosto abatido pela vida dura

Domingo a tarde, continuo atrasado!

“Mas ele só estava me ajudando”, diz a senhora Joana ao motorista do Jabaquara – Terminal Varginha. O profissional insinuou uma esperteza minha, disse que eu quis sair pela porta da frente, sem pagar a condução. Acalmo a senhora, digo que ninguém vai morrer por causa de R$ 3,80. Olho de um jeito “carinhoso” para o motorista. Saio sem pagar.

Um pouco antes

“Moço, lá no terminal Jabaquara, lá dentro, pegarei um ônibus pra Diadema, pelo caminho, desço e pego outro pra Favela do Vermelhão, perto do Zoológico, conhece?

Não moço, não vim pra cá visitar ninguém. Na feira daqui, da Vila Santa Catarina, as pessoas são mais boazinhas, me dão frutas, verduras, comida, né? Eu venho cedo sim, saio de casa às 10:30, chego ao meio-dia. Faço isso todo domingo.

Não fico em fim de feira, não moço, não fico. Os homens deixam umas caixas, jogam caixotes e a mulherada briga pra pegar o melhor, outras, moço, querem pegar sempre mais. Tem criança também, como são ligeiras. Eu sou velha, né? Não dá pra mim.

Ah…moço, eu moro com meu filho. Os outros três casaram e foram pra outros lugares. Meu primeiro filho morreu com 52 anos, foi uma tal de doença de chagas. Esse filho que está lá em casa, esse que mora comigo, ele também tem essa doença. Sabe moço…ele já tem 50 anos…”

Domingo, fim da manhã, acordo atrasado, tenho que ir trabalhar

Tomo banho rápido. A garoa lá fora é um bom sinal: não precisarei levantar meu black, o tempo corre, uma touca resolve essa parada.

Sigo em direção ao ponto de ônibus, uma mulher passa por mim apressada, pede licença, não quer perder a lotação. Ela esqueceu que é domingo, dia de feira. Com o trânsito da avenida principal, daria para a apressada dar três voltas no quarteirão antes da sua condução chegar ao ponto.

Uma viatura da Rota passa, policiais me olham, encaram. Enquanto aperto meu patuá, uma senhora pede ajuda pra colocar seu carrinho lotado de alimentos no ônibus que vem chegando. Além do carrinho, ela carrega uma sacola pesada. Decido entrar com ela, deixo passar a lotação que eu pegaria. Fico ao seu lado, nos primeiros bancos.

O trecho de uma música dos Racionais ecoa em minha mente: “a roupa humilde, a pele escura, o rosto abatido pela vida dura…”. Senhora, qual o seu nome?

“Moço, meu nome é Joana, saí de Alagoas pro Paraná, de lá, vim pra São Paulo. Faz tempo, moço”.

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