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terça-feira, março 19, 2024

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Desvendando “Esú”, disco solo do rapper baiano Baco Exu do Blues

Já é consenso: o soteropolitano de 20 anos Baco Exu do Blues lançou um grande disco de rap nacional e estende-se aí à MPB, por que não?

Esú” nome do disco, em Iorubá é um dos principais orixás da cultura africana, um mensageiro entre os homens e o céu e que nesse caminho transita em si o bem e o mal do mundo. O nome do disco traz em sua capa o trocadilho visual e polêmico entre Exu e o nome de Jesus.

Baco Exu do Blues - Esú [capa]
Baco Exu do Blues – Esú [capa]

Baco pela mitologia greco-romana é o deus do vinho, dos excessos. O nome artístico adotado pelo rapper Diogo Moncorvo, filho de uma professora de literatura, faz muito sentido quando ouvimos suas músicas. O disco todo é forte, muito certo do que pretende ser e a mensagem que pretende passar. Se anteriormente o rapper possa ter sido controverso, parece ter se redimido com um trabalho mais maduro.

Sensivelmente percebe-se que é uma obra fiel à si, que faz de seu disco um desabafo sincero de suas fraquezas, um agradecimento poderoso sobre suas vitórias, um discurso reto sobre racismo e uma declaração ardente sobre suas paixões.

Baco Exu do Blues brada a si mesmo no disco numa entrega visceral e nos entrega assim um olhar profundo por sua intimidade. Ouça “En Tu Mira – Interlúdio” que é simplesmente de arrepiar.

Dar o play num disco novo é como uma folha em branco prestes a ser preenchida em nossa mente. No caso de “Esú” toda a arte do álbum (Eric Mellonos, Gabriel Sicuro e Mario Cravo Neto) convida de forma irrecusável à sua audição. Com muitas referências literárias e principalmente religiosas, a produção musical do disco — feita pelo Nansy Silvvz — é afinada no que diz respeito à sonoridade e letra.

Com muitos atabaques e cantos africanos, ora órgãos de igreja, o disco soa muitas vezes como um cântico religioso junto à retomada e busca espiritual e o elo entre o homem em crise, o mundano, o humano e Deus.

Referência, é disso que o rap é feito, assim como nos diz os samplers e se possível as letras. Com menção à trechos de Paulinho da Viola, ao escritor Jorge Amado, homenagem à Chico Science e Nação Zumbi, James Brown, Tim Maia e Racionais MC’s, Baco fez um disco com identidade ao trazer ícones e símbolos nacionais na produção de seus beats e rimas. Podemos afirmar isso também com a faixa “A Pele Que Habito” referência ao cineasta espanhol Almodóvar, que é uma levada soul music bem brasileira anos 70. Uma viagem deliciosa da versão de “Dedica a Ela” de Arthur Verocai, a mesma música sampleada pelo Ghostface Killah em “Enemies All Around Me”, porém melhor apropriada no disco do Baco.

Se deparar com o surgimento de um grande disco de rap ou que gênero for, a partir do momento que damos o play e ser  impressionado é quase que uma recompensa pelo fatídico dia a dia, como ser presenteado. É preencher aquela folha do início do texto com muita ideia e sensação e no caso de “Esú”, sem deixar nenhum espaço em branco.

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