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quinta-feira, março 28, 2024

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Dehco Wanlu, DJ e produtor conhecido pelo trabalho com Jigaboo, fala sobre novos projetos

Desde 1984, Dehco Wanlu está envolvido com o mundo da música eletrônica e do hip hop. DJ e produtor que continua atuando no cenário rap, Dehco tem em seu currículo trabalhos com P.MC, Jigaboo, já participou de coletânea da gravadora Polygram, assinou com a Virgin e, atualmente, tem o selo M.I.BRA (Musica Ilimitada Brasileira).

Com uma história rica no hip hop, que também inclui a utilização de um teclado caseiro – obra de seu irmão feita nos final dos anos 1980, Dehco Wanlu mostra seu talento e dissemina informação e conhecimento em seu site, com o projeto Reference, processo que revisita clássicos da música negra. Em entrevista ao ZonaSuburbana, o DJ e produtor fala sobre o seu trabalho e a falta de conexão dos integrantes do rap brasileiro com o seu trabalho. “Acredito que o rap nacional nunca soube quem eu sou como produtor, seja por falta de atenção ou por falta de interesse mesmo”. Confira as ideias de Dehco:

ZS: Você é um DJ e produtor que traz experiências da velha escola, mas continua conectado ao que está sendo produzido na música atual. Fale um pouco desse seu trânsito entre gerações e estilos.
Dehco: Sim, as experiências da velha escolha fazem parte de um processo naturalmente intrínseco, pois eu já havia ligado o sinal de alerta desde o single “Rappers Delight”, em 1979.  Mas daquele período, até surgir a possibilidade de começar a produzir, mesmo com o equipamento mais simples e precário, se passaram aproximadamente 15 anos. Quando as primeiras possibilidades de produzir surgiram, já existia o rap nacional, então foi uma transição natural. Porém, a vontade de fazer aqueles beats dos anos 80 nunca morreu, e hoje com o advento das redes sociais, entendi que poderia alcançar pessoas que também acompanharam o mesmo que eu e que ainda curtem, aliás a maioria (diferente de mim) só curte a velha escola internacional.

ZS: E o selo/gravadora Reference. Quais trabalhos foram e estão sendo desenvolvidos?
Dehco Wanlu: Na verdade, o selo é o M.I.BRA (Musica Ilimitada Brasileira) e atualmente conta com as parcerias de Jottacê. LDO Estrategista, Dpinot, Moeda Man e Gulliver, todos de SP. A M.I.BRA tem a parceria da RM Midias, que é a responsável pela divulgação na web, e eu entro com a produção musical quando o artista já não a tem. Já o Reference é o projeto onde apresento meu trabalho de DJ/Produtor, em vídeos que são postados periodicamente. E como já falei, por enquanto traz principalmente produções da velha escola, mas em breve esse leque se abrirá e naturalmente surgirão as produções atuais.

ZS: Em seu site, estão arquivados vídeos com demonstrações de produções clássicas que vão do funk, passam pelo electro e chegam no rap. Qual a importância de resgatar timbres e processos criativos de artistas que são referência na cena black?
Dehco:
Pra mim tem sido uma imensa satisfação pessoal, pois preferi nesse início dar total prioridade para os estilos com os quais eu me formei como DJ, Miami Bass, Freestyle, e o Rap/Hip Hop anos 80 e 90, principalmente os feito em Los Angeles e Miami, conhecidos na minha região, Juiz de Fora (MG), como Rasteiros.

A importância de resgatar esses clássicos, passa sim pela pesquisa dos timbres e de certa forma te coloca dentro do DNA daquelas músicas, torna-se um desafio saudável, pois muitas vezes, ao ouvir a versão original, imagino onde posso buscar aquele timbre acessando o meu bando de dados mental, só que nem sempre é o que parece e a busca recomeça do zero, mas sempre com um final satisfatório, tenho comprovado isso com o feedback que tem vindo dos Estados Unidos, Alemanha, Holanda, França, Portugal, Argentina, Colômbia etc… E para mim como produtor, “entrar” na essência dessas músicas, desses clássicos é de certa forma lidar com os pensamentos criativos daqueles produtores que fizeram a raiz da história dessas músicas e isso é por si só enriquecedor.

ZS: Você é respeitado na cena por suas produções de rap também. Poderia falar do seu envolvimento com o rap brasileiro?
Dehco: Aconteceu naturalmente, porque eu “brincava de cantar”, “Planet Rock”, “The Message”, várias do Kurtis Blow, Whodini, MC Tee, The 2 live Crew, Newcleus etc. Isso desde 1980, mais ou menos em 1985, a dupla de SP Pepeu e Mike apareceu na rádio Tropical FM  (RJ), e eu era ouvinte dessa radio, e lá eles rimaram em português em cima de beats gringos, isso antes de gravarem a “Melo do Bastião” em 1986. Nessa época, eu tinha 16 anos e já tocava na noite há dois anos, me liguei então que era possível fazer aquilo que eu adorava escutar em português e de uma forma legal, pois eu não curtia a versão de “Rappers Delight” feita pelo Miele em 1980 – considerada o primeiro rap brasileiro.

Então, quase que de imediato, começaram a sair as primeiras letras, que se acumulavam no caderno porque não tinha como gravar. Então fazia raras e pequenas apresentações nos bailes, cantando em cima das instrumentais dos discos. Mas como eu tive a sorte de ser abençoado tendo como irmão um gênio em eletrônica, isso acabou encurtando o caminho para mim, pois em 1989 já rolava os primeiros testes com uma bateria eletrônica e um teclado feitos por ele, isso mesmo, um teclado desenvolvido e construído por ele, só para ilustrar um pouco melhor:

10258402_342665425883008_8248126842279249374_oPegamos uma peça de acrílico, desenhamos as teclas e serramos uma a uma e depois montamos isso com molas e parafusos em caixa de madeira, e dentro ia placa de circuito que ele desenvolveu e montou. Gerava os timbres que podia ser algumas variações de baixo sintetizado ou um lead (som mais agudo).

Com esse teclado e essa bateria fizemos várias produções e gravações em fita K7 para alguns amigos, inclusive a demo que o P.MC levou pra SP, nessa época eu e o P.MC éramos uma dupla em Juiz de Fora, e suas primeiras gravações com bases próprias foram feitas por mim e meu irmão nesse equipamento que citei, e esse foi o cartão de visita que o P.MC apresentou para algumas pessoas que veio a conhecer ainda na estação São Bento, entre eles o DJ Ninja. E isso contribuiu para o início da sua trajetória em SP, e cerca de 5 anos depois eu me mudei para SP e retomamos a dupla, que depois virou o trio Jigaboo. E para fechar essa, acredito que o rap nacional nunca soube quem eu sou como produtor, seja por falta de atenção ou por falta de interesse mesmo.

ZS: Você já foi artista contratado de uma grande gravadora, agora você tem seu selo e trabalha de maneira independente. Quais são os prós e contras dos dois lados?
Dehco:
Essa resposta ainda traz uma pontinha da anterior, pois todo aquele trabalho que foi feito desde 1989 que me levou a ter o respeito do produtor Rick Bonadio. Pois ele ouviu os beats que eu fazia, gravados em uma fita K7 e logo atentou para aquilo, em seguida me deu alguns remix e beats para fazer, e nesse ínterim assumiu a presidência da gravadora Virgin. Nesse momento eu já estava preparando um repertório com o P.MC e em seguida fomos contratados. Os prós de uma grande gravadora é o suporte que eles ofereciam, o artista praticamente só se preocupava em fazer música e se apresentar, o resto era por conta deles.

E o contra era que só existia uma rádio para o nosso segmento, porém a forma deles trabalharem era a mesma usada para os artistas convencionais, e estrategicamente isso não funcionava para o nosso trabalho, o público do rap era majoritariamente periférico e uma gravadora multinacional jamais focaria seu trabalho nessa direção, e isso comprometeu absurdamente os nossos resultados.

10497014_342664499216434_6585801463084806328_oQuanto a trabalhar de forma independente com o selo, o que tem de pró é a liberdade total em todos os sentidos e também o risco praticamente zero, pois, o investimento se resume a esforços próprios e praticamente não envolve dinheiro e o contra é que, querendo ou não, a gente meio que deixa o barco rolar, até pegar uma maré favorável. Hoje temos a facilidade de ter os equipamentos em casa, conseguimos finalizar um CD e, após isso,  lidamos com a correria para obter resultado.

Mesmo com as redes sociais, o público ainda é muito disperso e o desafio é conseguir apresentar os trabalhos para o maior número de pessoas e fazê-las participarem, não somente com likes e compartilhamentos, que também são importantes, mas como estamos falando de um mercado, isso precisa ser convertido em produto, principalmente shows.

ZS: O que acha da cena rap atual?
Dehco: Vejo que vivemos uma nova era, a geração que está em evidência agora nem sabe quem eu sou ou o que já fiz, mas procuro ver sem muita cobrança ou crítica, porque acabaria no campo da comparação e os meus parâmetros para isso são completamente outros. O que eu posso dizer é que minha identificação com o que fazem hoje em termos de beat, rimas, flow, impostação e projeção de voz, interpretação e postura de alguns que já vi em vídeos, é bem pequena, mas como eu disse, é uma geração diferente e desejo sorte a eles.

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Algumas produções de Dehco Wanlu

CD Identidade – PMC & DJ DECO MURPHY Grav. Virgin/EMI 1998 (produtor – compositor – interprete)
CD As Aparecias Enganam – JIGABOO Grav. Virgin/EMI 1999 (produtor – compositor – interprete)
CD Quadrilátero (Projeto de reintegração com menores da FEBEM) Grav. EMI 2001 (produtor – compositor – interprete) Paticipações de Sabotage, Afro-x, RZO
CD Meu Rap é Assim – PMC Grav. Musart Music 2003 (produtor – compositor – interprete)
CD Toda Felicidade – TÁTA REIS Grav.Unimar Music 2004
CD Insight (New Age) – Wanlu Grav. Musart Music 2005
CD Bueno Eletro Aires (Tango + Eletronico) – Wanlu Grav. Musart Music 2006
Parceria com os Franceses do REPREZENT CREW em Paris onde foram produzidas várias faixas.
CD Reggaeton Toaster Eddie Grav. Musart Music 2006/2007
CD Dryca Ryzzo 2012
CD Jottacê “Condenado a cantar 2009 e “Não Posso Desanimar” 2015
CD Pé de Palavra – CD+Revista infantil (Produção musical e criação e ilustração da revista)
CD Leandro Lehart – Remix de Vem Dançar o Mestiço.

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