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quinta-feira, março 28, 2024

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Carta aos mais novos rappers da cena…e mais velhos também

Observo a fé dos mais novos, aquela gana de saber mais, fazer mais, falar mais, atacar e dar a cara a tapa.

Buscar soluções no YouTube, em fóruns, fan pages de beatmakers, produtores. Soltar músicas para streaming e download que muitos dos mais velhos do rap demorariam meses para lançar de maneira cuidadosa.

Os mais novos são público, são organizadores, produtores, DJs, MCs. Viram as costas para as regras dos “donos do rap”. Os mais novos estão no rap político aprendendo a fazer política, mas estão atuando. Estão no rap alternativo fazendo batidas sujas e coisas que os “entendidos do hip hop” dizem que morreriam nos anos 90.

Os mais novos seguem sem pudor as novas tendências do pop, repetem o mantra: grana, carro, mulher – mulher, carro, grana.

Tenho belas surpresas em cada play que dou. Também tenho decepções. Os mais novos acertam muito, erram demais.

Ahh, meu velho! Falar que no começo do rap no Brasil não era assim é uma bobagem gigantesca. Olhamos para o passado, fazemos o recorte que precisamos para justificar uma era de ouro. Destacamos as qualidades. Os defeitos vão para debaixo do tapete da história.

Sei que a crítica ao atual momento do rap é necessária, fingir que há harmonia não ajuda. Buscar atitude e poesia se faz necessário.

O tempo passa, como há pouco diálogo, todos pensam que é melhor ficar cada um no seu canto. Mas vamos recordar, nos anos 90, em São Paulo, jovens rappers rebeldes – que brigavam com produtores e equipes de baile por mais liberdade – criaram pequenos selos e estúdios caseiros. Viraram o jogo, colheram frutos, suportaram as consequências negativas.

Nos dias atuais, a ideia de dirigismo cultural, esse papo de falar como o rap tem que ser, já não cola nos ouvidos dos mais novos. A nova geração tem suas referências, suas técnicas.

É certo que num futuro próximo, quando algo diferente for criado, principalmente se não for ligado aos membros desta geração, tudo voltará ao começo. Os mais novos estarão estabelecidos. Serão artistas mais velhos dividindo suas ações entre tentar entender, correr junto ou barrar novas iniciativas.

A porta do futuro está aí, uns querem trancá-la, outros estão ansiosos para sentir a luz que está atrás dela. Sabemos que o tempo não precisa de ajuda para passar. Quais ideias, princípios e valores ficarão? Quem manterá a fogueira da essência acesa?

Texto publicado originalmente no site Bocada Forte, em novembro de 2014.

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