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quinta-feira, março 28, 2024

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Augusto Oliveira: “Estamos fugindo da mesmice”

Em entrevista exclusiva, artista apresenta novo trabalho e fala sobre as polêmicas do rap brasileiro.

O rapper Augusto Oliveira liberou nesta terça (04/04) “Oasis”, seu mais novo EP. Voltado para as pistas ou para os Djs como ele gosta de dizer, o trabalho tem como ponto de partida o calor das relações humanas, ou das dores de seus rompimentos.

Três faixas compõem “Oasis”, com produções de Pifo, do coletivo angolano TRX Music, e Rincon Sapiência, o EP tem ainda participação de Rico Dalasam e Torres. Com uma pegada funk, neo soul, house e trap, o trabalho é dançante e quente.

Ouça, na íntegra o EP “Oasis”:

Desde seu último trabalho lançado o “Delorean”, de 2014, Augusto vem trampando na organização da Batalha da Leste, na festa Punga, em que reúne artistas da cena rap, e no seu blog o “Lado Negro da Força”, onde fala sobre o mundo dos quadrinhos e geeks, porém voltado para os negros. Essa relação com informação e de estar antenado com o mundo faz com que seu trampo tenha um diferencial, dessa sua trajetória até aqui, percebemos um amadurecimento em seu trabalho. “É um cara antenado na cultura mundial do entretenimento, isso faz ele ter abertura e disposição para explorar referências novas com relação á música, para mim, como produtor se torna interessante trabalhar com ele”, declara Rincon Sapiência, que também produz faixas do novo disco de Augusto, cujo lançamento ainda ocorrerá este ano.

Sobre a questão do nome “Oasis”, Augusto quis mostrar que hoje enfrentamos um problema com o lance da hegemonia da música gringa. “Os DJs só tocam rap gringo no baile. Estamos num deserto musical. O pessoal tá estressando a possibilidade de mandar freestyles escritos de 16 a 20 linhas e não ta fazendo música. Oásis é esse respiro pros DJs”, declara Augusto. Leia abaixo a entrevista com o rapper:

ZS: No seu primeiro disco “Delorean”, de 2014, você trata do antigo e do novo e de como eles podem caminhar juntos. Há uma influência do rap anos 90 nele. No seu novo disco, o que podemos esperar dele?
Augusto Oliveira: É uma nova fase, acredito que estou mais próximo da disco, do funk, house, trap e neo soul nesse trampo do que de uma época em especial. E por mais que sejam samples e instrumentos programados ou tocados em controladoras, acredito que o EP esteja orgânico e acho que esse é o caminho a se seguir no disco. Misturar o eletrônico com o orgânico e fazer coisas fora da caixa. Esperem coisas diferentes.

ZS: Diga-nos como você chegou nas participações do seu EP Oasis, e por que resolveu lançar ele antes do disco?
Augusto Oliveira: Elas chegaram em mim. Oásis é um projeto muito orgânico. O Rincon ja tava me gravando, O Minizu (Meu DJ) tinha me mostrado o TRX Music, eu chapei e em dois tweets já fechamos o feat. Eu tinha acabado de gravar minha participação no 2079 com a Mob79 e chamei o Torres que tava perto pra fechar comigo e no fim das gravações da Oásis o Rincon achou que tava faltando alguma coisa. Mandei um áudio com a minha parte pro Rico e em dois dias colocamos as vozes dele no projeto. Colocar um projeto menor antes do disco pareceu a coisa certa a se fazer. É como colocar o pé na piscina antes de pular sabe? Vamos testar sonoridades, texturas, temas e estilos de rima antes de me dedicar mais ainda ao projeto. Bons trabalhos tomam tempo e você tem que estar preparado pra mudar de direção e se atualizar conforme o tempo passa. Muitos discos bons morrem no estúdio porque não conversaram com a rua antes de sair.

ZS: Por que você escolheu o nome Oasis para o EP?
Augusto Oliveira: Vivemos numa época de cyphers, tivemos o cypher kids, o da Nike, o das mina, o do dia da consciência negra, o que apoia o golpe, o cypher racista, etc… Nesse meio tempo não tivemos músicas saindo com foco nos DJs. Não tem ninguém abastecendo os DJs, como diria o Raphão (Alaafin) haha. Se a gente parar pra pensar o último hit das pistas é um free verse. Os DJs só tocam rap gringo no baile. Estamos num deserto musical. O pessoal tá estressando a possibilidade de mandar freestyles escritos de 16 a 20 linhas e não ta fazendo música. Oásis é esse respiro pros DJs. Você consegue ser o caneta pesada, escreve bem e fazer músicas dançantes, sem atacar outras pessoas, ser politico. O desafio não é a rima (quase) todo mundo sabe rimar. O desafio é fazer músicas interessantes (pelo menos pra mim e nessa fase que eu tô) pode ser que esteja falando uma par de merda. Os números tão aí provando que os Cyphers dão dinheiro e notoriedade pra galera e o investimento é menor do que o de um projeto musical completo ou um single.

ZS: O que pensa sobre a discussão acalorada que tem acontecido em relação aos brancos no rap?
Augusto Oliveira: A discussão é válida e vem de um lugar sincero. Tenho muitos amigos brancos que fazem rap e respeitam a história e a importância do hip hop como uma construção e uma cultura preta. Respeito essas pessoas. O pessoal que diz que rap não tem cor é o mesmo que diz que amor não tem cor, que não importa se a pessoa é gay ou não, que não liga se a pessoa é trans ou não, mas faz aquela piadinha no grupo de amigos, na hora de passar do meu lado na rua atravessa, fala que é culpa da saia [no caso de assédio] e ter uma criança gay, mulher ou trans é castigo pra homem que sai com uma par de mina. Eu não respeito essas pessoas.

ZS: Você acha que, ao falar de suas rimas, do correr atrás do seu sonho, vencer os inimigos e maconha, bebida e mulheres, o rap está se limitando?
Augusto Oliveira: Acredito que a resposta pra isso está em artistas que não recebem o destaque das grandes mídias e das mídias especializadas. Temos muitos artistas competentes que ainda não alcançaram o destaque suficiente pra alterar essa percepção. Temos artistas como Tassia Reis, Rap Plus Size, Drik, Stefanie, Sempre, Ho Mon Tchain, Miller, Raptil, Dalasam, Karol de Souza, Parteum, A.L.M.A. e outros que vem realizando ótimos trabalhos e trazendo diversidade, não só artística mas de representação pro Rap. Faço parte do time que não está no flash, mas faz coisas diferentes e chama a atenção dos fãs de rap e música em geral. Entretanto, passa batido pelos fãs dos artistas. Inovar é solitário e nem sempre dá lucro. Mas estamos aí fugindo da mesmice.

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